sexta-feira, dezembro 31, 2004

Retrato de (um) povo/s



Não é o tecto da Capela Sistina...
eu sei...
é, todavia, a veia que nos transporta à descoberta de algo que, no fundo, faz parte de nós mesmos.




Canadian Museum of Civilization

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Lobo Antunes diz que há-de amar uma pedra...

E que fazer quando já se ama um rochedo?

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Ofereço-vos...



O açucar em pó das minhas manhãs


A farinha das minhas tardes


E a heroína das minhas noites

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Surpresa!



Não podiam ter chegado em melhor altura.

O termómetro atingia uns fantasmagóricos 40 e tal negativos (tomando em consideração o factor vento), quando, por volta das 3 da manhã sinto baterem à porta (e não era a neve, não).

Pelo meio da condensação cerrada, gerada pelo abrir da porta; na fronteira entre o quente e o gelado; vislumbro-lhes os rostos.

Eu só posso dizer:
- Sou filha de uma mãe fenomenalmente louca!
Que se lixe o pai natal quando se tem uma mãe assim!

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Diálogo - I



Estava na hora da deita.
No quarto escuro desenhavam-se as habituais sombras de todas as noites.
Ele nem sempre se queixa, mas nesta noite em particular, fê-lo mais que o habitual; de modo que...

- Ouve Daniel... que é que vês no escuro?

- ... hmmm.. nothing.

- So... there's nothing to be scared of.

- But... if you're not scared of anything, you don't belong in this world.

(eu arregalei os olhos: pela natureza do que ele me disse, mas também porque despertou em mim uma certa lembrança de algo em que eu pensava quando era pequena)

- Mas... como é que te lembraste disso?

- Verónica told me so.

________________________


Já falei com a Verónica.
Fiquei a saber que de facto eles já tinham tido esta conversa mas foi mesmo ele que se saiu com aquela tirada.
É natural que ele tenha feito uma certa confusão em relação à sua proveniência; a memória trai-nos mais do que muitas vezes julgamos.

Mais confusa fico eu com a maturidade do que se passa nestas cabecinhas tão jovens.

sábado, dezembro 11, 2004

(toc-toc-toc)



(toc-toc-toc... toc-toc-toc)

"Atão?... 'tá alguém em casa?..."

"Será que o riacho secou de vez?.."


(tec-tec tec-tec-tec)

"...'inda não, 'inda não!
Agora voltei ao tempo da velha máquina de dactilografar... tsc tsc... sai tudo mal.

Só erros, papel desperdiçado, paciência esgotada... e ainda por cima não lhe encontro o botão de ESC!"
(pfff)

Poema bibitu



Como não posso estar quieta por muito tempo, quando ando de autocarro entretenho-me a pescar frases que vejo nos reclames de publicidade que revestem as paredes do dito e me acolchoam as pupilas.

Saiu algo como isto:

Better get used to hearing

Reward

Courtesy and respect it's a two way street

Ventilation

Suis ta passion!
Pay the fare or pay the fine
Wherever life takes you

"Exit at the rear"




segunda-feira, dezembro 06, 2004

Da gaveta de dentro - I



Aqui há uns dois anos atrás, aquando em Portugal, achei, no mínimo, "curioso", quando uma das minhas tias (que nem sequer o é) me informa, toda entusiasmada:
- "... o Fernando já não trabalha na fábrica! A Rosinha comprou-lhe um café."
Sorriso de orelha a orelha, referindo-se, respectivamente, ao seu cunhado e sua irmã.

Se este facto me tivesse sido contado por um familiar directo do Fernando, a exposição teria sido feita de outro modo, estou em crer.

É estúpidamente absurdo como a parcialidade nos consegue vendar o raciocínio.

sábado, dezembro 04, 2004

Som de embalar



Pink Floyd rasgava o ar,
"Home, home again
I like to be there when I can..."
.

Nunca apreciei tanto permanecer no vermelho, como naqueles minutos que se lhe seguiram.
Teria ficado ali por muitos mais vermelhos, não fossem as buzinas que iriram estilhaçar o momento.

Ali... mesmo em frente, a uns 35º da linha do horizonte (nunca eu a vira tão baixa, palpável) vi-me lá, "home, home again", deitada sobre aquele manto cremoso de quarto minguante; perfeito gomo de embalar.

São momentos como este que pertencem à tal cadeia-por-ser e quando acontecem, elas nem pedem licença; transbordam e fluem naquele leito morno, sem que lhes seja necessário indicar o trajecto.



quinta-feira, dezembro 02, 2004

Mais um episódio branco



Esta revelou-se uma noite ainda mais rocambolesca que a da "maçã branca" e companhia.

Perco o autocarro, levo o carro.
Dou mil voltas para arranjar um estacionamento vago.
Aula.

...

De regresso ao lugar X, estarreci ao vê-lo... vazio!
Verifico se foi mesmo nesta rua que o deixei... SIM, FOI!

Roubado ou rebocado?

Telefono à polícia.
Serviço telefónico impecável, sem esperas, eficaz, ligações internas rápidas que terminam no serviço de... reboque.
Aponto a rua e número.
Tomo um autocarro até lá perto.
Segue-se uma viagem de taxi = $8.oo
Chegada à destinação, há que arrotar com $90.95 se desejo as 4 rodas de volta.
Tempo usado nesta "vadiagem" = 3 horas.
(convém adicionar que é madrugada)

Ah bendita neve que tudo encobres (até mesmo entradas particulares!).

MORAL da história:
Levanta sempre o manto, por mais belo que ele seja, pode sempre esconder inconvenientes.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Cabeçadas - III


Eu tenho momentos de felicidade com pequenas coisas; aragens simples que me roçam o rosto e me fazem esboçar sorrisos que se ecoam até ao fundo de mim.

Eu meço a minha felicidade com os impensáveis.

(como este... de uma lucidez silenciosa)

quarta-feira, novembro 24, 2004

Lentes de Contacto - II



Ora porra!


E não é que o autocarro não esperou mesmo por mim?!

Sinceramente.
O de hoje foi mesmo um dia 'não'.
Um daqueles que só mesmo para... escrever e não esquecer.
Ele já não tinha começado nada bem.
Começado?... começado, não, que isto tem sido é uma sucessão desajeitada de dias ao longo destes anos todos... como é que vai agora "começar"?

Noite em branco. Branquíssima. Com uns sarapintados de preto. O das letras.
Terminar um trabalho e nem lhe gostar do cheiro, é lixado.
Ainda por cima sem ter visão para descobrir erros (quanto mais virtudes).
Dormir.
Uma, duas horas.
Toca a preparar os leites e lanches e isso.
Dormir (de novo).
Toca a acordar. Fazer o almoço.
Dormir (é que eu durmo melhor é de dia mesmo).
Toca a acordar. Fazer o jantar.
Fazê-lo à pressa e nem sequer ter tempo de comer.
Toca a sair de casa.
Há que bater na impressora e ter o trabalho aprumadinho.
Corre, corre...
Ahh!
Agora durante três horitas, alapa-se o traseiro e ouve-se a mulher falar acerca dos finados.
(mas que sossego)
Ok. Terminou mais cedo. Enquanto faço horas para o autocarro, vou ali dar um giro.
Giro dado, 'tá na hora.
"Ó carago! E passes?... já não tenho mais passes?... %m$e#r@d#a!..e moedas... pff... falta-me $1 pr'ó bilhete... fogo.... não 'tou a gostar nada disto"
Corre, corre...
(Vai lá abaixo, compra passes...)
"... merda, 'tá fechado"
"Eilá... que é aquilo ali: change machine... olha que sorte. Nunca a tinha visto!"
Lá lhe enfio uma nota de $5 (não, o autocarro não aceita notas, ou melhor, aceita, mas não dá troco) e espero pelas moedinhas sairem de algum buraco.
Qual quê!
Desata a sair é um cartão. Telefonemas no valor de $5!
(eu já fumego)
"'Tá visto. O 129, já não o apanho, e é o último... vou no 2. É mais à volta mas é a única maneira..."
Toca a andar e andar.
Ainda bem que gosto de chuva.
E é mesmo daquela que eu gosto.
Que estranho.
Nunca me lembro de a ter visto cair, aqui, no mês de Novembro.
Que consolo nas bentas.
Nem o capuz pus (ahah.. uz-uz) e nem que o pusesse ela molhava-me na mesma. Entra de lado e molha tudo.
Deixa-me cá parar aqui, ver se me trocam uma nota ou se me obrigam a comprar algo...
Na maior.
Já vou eu pela rua acima, já vou no 2.
Mas... pera lá, deixa complicar mais as coisas. A Ana mora no trajecto... deixa lá parar por uns minutos.
Já que está tudo ao revês, que continue.
É só novidades!
Nunca tinha visto uma 'maçã' branca! Olha que gira, toda compacta.
"Foi só por isso que ele o comprou: fica bem em cima de qualquer móvel e nemprecisa ter internet, é só para ouvir música."
Encheu-me a pança: sopa, vinho, fruta e até um chá de cidreira para dormir bem.
(eheh... que engraçada)
Eu pareço uma mendiga.(aliás... sinto-me mesmo uma)
E até me trouxe a casa!
Poça! Isto só mesmo em dias "não".
12:30
Abro a porta.
Com dois passos dentro de casa já se ouve a festa "mã... mãã... I missed you".
Cá vêm os rapazotes.
Lá faço o ritual do costume, caio de quatro, deixo que me lambuzem a cara de beijos e só me falta abanar a cauda.
"... mas como é? Vocês ainda estão acordados?"
(isto é uma casa de doidos)
"shhh... não façam barulho que as manas acordam."
Descalço-me e enfio-me na cama com eles para ver se a festa não se prolonga.
Meia hora depois:
"mã... I'm hungry."
(toingg)
"Vá... venham daí. Vou-vos aquecer leite."

_______

(acho que vou montar cama na cozinha e passar a dormir lá)

(ahh... e não era nem de laranja nem ananás... era de pêssego, compal!)

(nota-se que o chá fez mesmo efeito)

domingo, novembro 21, 2004

Cabeçadas - II

(Para mim) Na maior parte das vezes, o escrever, só por si, não acarreta propriedades curativas.
A excitação que sentimos ao nos sabermos lidos, isso sim, é que serve de bálsamo ás (minhas) nossas chagas.


________________

Depois de ter lido os dois primeiros comentários, reparei que cometi uma grave falta, a que de imediato corrigi e coloquei entre parênteses.

E perante essas opiniões que tive, lembrei-me de colocar aqui a questão:
- O que é que, na escrita, vos proporciona mais prazer?

Não se trata de uma competição :-)
digamos antes, uma mesa redonda onde colocamos as diversas ideias acerca deste assunto.
Claro que todos são bem-vindos à mesa.

sexta-feira, novembro 19, 2004

quinta-feira, novembro 18, 2004

Cabeçadas - I



Foi um dia a sensação de poder alcançar o todo através do teu nada.

E hoje,
eu sou esse nada.

terça-feira, novembro 16, 2004

Será exemplar único?



Dicionário da Língua Portuguesa
2003
Porto Editora

Acabadinho de chegar. Lanço-lhe as maos ao pescoço e desato a passear-lhe as palavras.
Gostaria que me corrigissem, por favor (quem queira e tenha pachorra).
Será que só este exemplar que aqui tenho do dito dicionário (sublinho: da Língua Portuguesa), tem vocábulos ingleses?

Tipo:
- behaviourism (pg. 221)
- bypass (pg. 266)
(entre muitas outras)

Não tenho nada, mesmo nada, contra a evolução de uma língua. Afinal, a mudança é permanente e requer que a língua acompanhe esse progresso.
Agora, o que discordo completamente é do facto de colocarem a palavra no original sem ligar sequer à fonética (acho que é este o bom termo...).

Quando muito que pusessem: baipasse!

E depois dos estrondos do dia



9 e tal da noite.

Vejo o Daniel concentrado como nunca. Vislumbro-lhe já o perfil de homem sério. De lápis em punho, lentamente a escrever o nome dele... uma, duas, muitas vezes.

Ao meu lado, está o David, sentado a beber o leite às goladas enquanto que pausa entre cada uma delas para as contar... one, two, three... chegou a nineteen, disse que já não queria mais.
(Foram goladas grandes!)

A Veronica e a Jessica, revezam-se a ler uns livros que trouxeram da escola. Pautadas.
Diria mesmo, melodiosas.

A felicidade bebida em quatro gotas de água.

sexta-feira, novembro 12, 2004

Postita rápida



Só para me activar de novo a "voz"... nem que seja por um ou dois dias.

Já agora, deixo-vos com este presente todo catita que achei por aí fora.
Não é que vá ficar por muito tempo; primeiro porque não tenho muito jeito para embelezar com trecos destes e segundo porque a duração que isto tem sob a forma gratuitu, não é eterna ;-)

... é aquela coisa ali embaixo... no lado direito do ecrãn.

Saudades, muitas.

sábado, novembro 06, 2004

Interregno



F
...E
.......C
..........H
.............A
................D
...................O

... por algumas semanas.

As cinzentas já começam a ficar negras.
As sinapses estão deveras sobrecarregadas.
... 'n' de tempestades na costa.
Vou fechar as janelas.

Até lá:
Um beijo a todos e a cada um de vocês em especial.

Ponto final (temporário).





quarta-feira, novembro 03, 2004

A velha mas sempre presente: CENSURA



Não é meu costume publicar aqui e-mails que me são reenviados, mas muito sinceramente, este que se segue, levou-me aos arames (tendo em conta que o tomo como legítimo e verídico).
A ler (quem ainda não conhece):

Exmo. Sr. ou Sr.ª:

Vem isto a propósito do caso Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

Nasci e tenho vivido num pequeno concelho (Pombal) do Litoral-Centro (Distrito de Leiria). Não milito em nenhum grupo partidário. Sou um simples cidadão nascido seis anos antes do 25 de Abril de 1974.
E como cidadão, ingénuo a pensar que haveria liberdade de expressão e de opinião, criei em Julho passado um "blog" na Internet que pretendia ser um espaço de reflexão e de debate de ideias, com críticas construtivas, sobre o que está a acontecer na minha Terra. Nomeadamente sobre a actividade da respectiva Câmara Municipal e outras instituições. Esse "blog" num espaço de dois meses registou mais de 6.700 visitas, tendo sido comentado em grande número por outros cidadãos/munícipes.

A respectiva autarquia, presidida pelo social-democrata Eng. Narciso Mota, nunca usou o princípio do contraditório. Apesar de reconhecer que alguns dos temas abordados tinham a sua veracidade, alterou alguns procedimentos, dando razão ao que por lá se escrevia.

Reconhecendo que o "blog" era incómodo para o Poder (leia-se, Câmara Municipal), o senhor presidente entendeu que a melhor forma de usar o "contraditório" era acabar com o mesmo. Vai daí, entrou em contacto com a direcção/administração da empresa onde eu trabalhava e denunciou a sua existência, fazendo ver que o "blog" era "gerido" em horas de expediente. A direcção da empresa de imediato, e justificando que aquela situação lesava a relação institucional com a Câmara Municipal, até porque necessitava desta para legalizar algumas situações pendentes, despediu-me. Isto, não argumentando com falta de profissionalismo ou de produtividade. Mas sim, porque o senhor presidente da Câmara assim os contactou para o efeito.
Esclareci a situação e comprometi-me a eliminar de imediato o "blog", o que foi feito e aceite. Precisamente um mês depois, e pelo meio alguns encontros realizados entre o presidente da Câmara e a direcção/administração da empresa, fui novamente confrontado com o despedimento. E perante duas opções:
instauração de processo disciplinar ou demissão voluntária, optei pela segunda.

Ou seja, a intervenção do senhor presidente da Câmara Municipal de Pombal neste processo é um facto. Tanto o é que um dos seus vereadores afirmou perante algumas pessoas "já acabámos com o blog".
Esta situação é notoriamente idêntica à que aconteceu com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua proporção, obviamente. Mas, com um senão. o meu futuro. Estou desempregado, com duas crianças de 20 meses para criar, casa e carro para pagar. E esposa também desempregada.

E tanto mais que, ainda há dias, ouvi da boca de um eventual empregador:
"reconheço que és a pessoa indicada para o meu projecto, mas quando o senhor presidente da Câmara soubesse, caía o Carmo e a Trindade. E eu não quero ter problemas com esse senhor".

É triste que 30 anos depois de uma revolução, ainda haja quem de uma forma nojenta e vergonhosa, censure as vozes discordantes para que estas não expressem livremente as suas opiniões.

Com os melhores cumprimentos

Atentamente

Orlando Manuel S. Cardoso
Rua Paul Harris, nº 13 - 1º Esq
3100-502 Pombal
Telef.: 236213594 - 936354363

E-mail: orlando.cardoso@zmail.pt


_________________________

Sem comentários mas com firme propósito de acção.

Non Sequiturs com fartura



"Things that happen by chance
are events in search of causes."


K.C. Cole, The Universe and the Teacup, 1998

Ali pelos meus 12 anos, comecei a coleccionar reflexões; pensamentos que via escritos em qualquer publicação que me passava pelos olhos.
Tornou-se num verdadeiro culto.
Havia uma altura em que sabia de cor a maior parte das que lá tinha escrito, tal era a assiduidade com que folheava aquele caderno de argolas, revestido por mim com uma capa fina de cortiça ( para resistir às intempéries ) .
Agora com o Citador sempre a actualizar e outras tantas páginas que por aqui existem com tal conteúdo, o tal caderno virou receptáculo de poeira.

Tive uma certa nostalgia, quando me deparei com aquele pensamento de Cole num livro que ando a ler, de modo que, após uns espirros, lá encontrei umas linhas ainda livres e toca a encafuá-lo lá.

E agora em jeito de non sequitur... (que é mesmo nisto que me sinto bem)... enquanto que não descubro a causalidade de certos eventos que se vão dando na minha vida, continuo a jogar ao pião com bolas de sabão.
( devo ter algum fetiche recalcado com o pião!... já aquando de Plutão, foi com ele que brinquei!... hmm... faz-me pensar)



quarta-feira, outubro 27, 2004

És total



Neste preciso momento, cobrem-te lentamente o corpo, habitualmente de um alvo aveludado, com outros tons que só te conferem ainda mais magia.





Confusa e disparatada




A minha verdade foi aqui inventada.


Esta saiu-me assim, tipo bolha de sabão.
Ainda vinha agarrada aos farrapos de algum sonho, a que agora me fogem os pormenores.
Deambulava ainda eu entre aquelas paredes que separam a ambiguidade do sonho e os sons ainda ténues do real, quando a ouvi sair da garganta, da minha.

Não lhe vejo é ligação.
Mas a verdade inventa-se?... se se inventa, poderá ser verdade?
E qual foi essa minha verdade com que me esbarrei?

Resumindo:
Vou ter que passar a dormir com o meu cadernito de capa azul à minha beira.

Multiplicidades



Hoje, quando voltava para casa, dou por mim a reparar (se bem que o faça também todas as outras noites quando viajo de autocarro, mas só hoje me deixei levar a publicar o que matutei)... a reparar no pessoal que me acompanha.

Com os olhos postos em cada cabeça que consigo ver, vou-os contando, todos os que estão de um lado e multiplico por dois... devemos ser uns 40 (é daquelas camionetas que parecem uma lagarta, dobra-se a meio) e dentro desses 40 consigo descortinar pelo menos, aí umas doze nacionalidades diferentes.

Ora... (aviso já que isto é um texto reflexão que vai ficar incompleto, sinto-o, e ter que continuar um dia mais tarde)... ora, o que me surpreende por demais, no meio desta sociedade, é precisamente, como é possível haver coesão entre tal multiplicidade étnica?
- um país que tem, pelo menos, 40% dos seus habitantes, origem que não seja inglesa nem francesa;
- não têm a mesma língua materna;
- costumes, crenças, modos de vida completamente diferentes.

Como, no meio destas dissemelhanças todas, se consegue obter homogeneidade?
No meio deste pluralismo, nota-se no geral, um caminhar lado-a-lado.

(e a este respeito já falei a "X", aqui há centenas de meses atrás, que iria publicar sobre isto, no entanto tenho vindo a adiar... continuo 'verde' no assunto... e por me achar 'verde' é que o vou deixar em aberto)


Hoje, fico-me pela pergunta.
Mais tarde, volto ao ataque; e para quem quiser dar a sua opinião, agradeço bastante que o faça... alarguem a minha visão (preciso de completar um projecto, por isso... venham daí novas ideias... eh eh eh)

terça-feira, outubro 26, 2004

Carpe Diem

"We must constantly look at things in a different way.

Just when you think you know something, you have to look at it in another way.

Even though it might seem silly or wrong, you must try it.

Consider what you think. Break out!
Don't just walk off the edge like lemmings... look around you!!"

- in "Dead Poets Society", escrito por Tom Schulman

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

E é assim que talvez se consiga absorver o dia; chupar o instante até à medula.
(obrigada Cidadão :-) )

O nascimento de uma crise

Para quem o barco do aborto causou tanta polémica, que pensar (se é que ainda se pode pensar após saber-se de tais barbaridades), como agir perante o que se passa no Quénia?

Como horrível ironia, a política dos EUA ao cortar ajuda internacional de planeamento familiar (ao que eles chama de "global gag rule") que tinha como fim petendido diminuir a taxa de abortos; resultou precisamente no contrário: num aumento ímpar desses mesmos.

TODOS os dias, agentes policiais da cidade de Nairobi, enfrentam a traumática cena de recolherem fetos abandonados em qualquer lixeira da cidade.

Sacos plásticos são recolhidos do rio Ngong, um braço de rio deveras poluído, repletos de fetos (por vezes lá se encontra um ou outro bébé com a gestação completa).
Sacos, que esperam ser levados pelas chuvas, mas que acabam por se acumular nas margens durante a seca que houve nesta Primavera.

(...)

Na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, que teve lugar em 1994, no Cairo, 179 nações assinaram um programa de acção na totalidade de 20 anos, que visava melhorar as condições de saúde sexual-reproductiva até 2015.
Cada país participante tinha a sua determinada quantia a pagar; tendo os países em desenvolvimento, que contribuir com 2/3 dos custos do programa, e os países desenvolvidos, com o restante.
Como a lista é enorme, passo a reproduzir uma meia dúzia dos países incluídos (em dólar americano) só a título de (muita) curiosidade:

Dinamarca -
Devia: $ 203.7 M - Pagou: $ 323.8 M
Deve: $zero

Luxemburgo -
Devia: $ 22.8 M - Pagou: $ 26.9 M
Deve: $zero

Holanda -
Devia: $ 208.0 M - Pagou: $ 336.4 M
Deve: $zero

Suécia -
Devia: $ 296.7 M - Pagou: $ 388.1 M
Deve: $zero

Portugal -
Devia: $ 136.4 M - Pagou: $ 7.0 M
Deve: $ 129.4 M

EUA -
Devia: $ 12.3 B - Pagou: $ 4.1 B
Deve: $ 8.2 B

Reino Unido -
Devia: $ 1.9 B - Pagou: $ 1.1 B
Deve: $ 744.5 M (?) (de acordo com o que li)

Canadá -
Devia: $ 850.1 M - Pagou: $ 196.9 M
Deve: $ 653.2 M

====================================================

Por cada $1 M a menos recebido para fundos que vão contribuir para a compra de contraceptivos, equipamento medical e víveres, entre outros, resulta em:

360.000 gravidezes não desejadas
800 mortes maternas
14.000 mortes adicionais de crianças abaixo dos 5 anos
150.000 abortos provocados
11.000 mortes infantis


?

segunda-feira, outubro 25, 2004

Sinestesia

Lembro-me ainda,
que sabor têm os sons que pronuncias.

Lembro-me ainda,
as mais variadas cores que preenchem a tua voz.

Vejo ainda,
sendo eu já cega,
ao ouvir-te falar,
as mais belas combinações luminosas
que me estalam cá dentro
o olfacto
à passagem desses olores.

Cada nota, uma cor.
Cada som, uma brisa.
Cada ritmo, uma essência.
Cada palavra, um sabor.


m. leal
21 Outubro 2004

sexta-feira, outubro 22, 2004

Quem testa quem?

Eu acho impressionante a quantidade de testes que fervilham pela net (e não só) que nos ajudam a descobrir um EU que nunca atingiriamos, por certo, de modo algum, através de pura introspecção.

Eu já lhes perdi a conta.
Já não me recordo com que ser mitológico eu me assemelho... nem com que espírito irei acordar no dia 'X' às horas 'tal'... ou com que tipo de árvore todo o meu ser se entronca.

No entanto há um teste que me fascina: que cor de aura eu possuo!

Não é brincadeira nenhuma conseguir chegar a tal conhecimento através de uma dúzia de batimentos de teclas.
E na minha condição de sujeito com uma mente aberta, eu experimento tudo.

Até mesmo aplicar uma certa atitude científica face a estes testes ditos "iluminantes".
Portanto, na próxima vez que me encarar frente-a-frente com um personagem caçador de auras, agirei como James Randi e usarei a abordagem de Moisés: "Testa o profeta."

Randi: Consegue ver a minha aura ao redor da minha cabeça?

"Caça-auras": Sim, claro

Randi: Ainda consegue vê-la se eu colocar esta revista em frente do meu rosto?"

Caça-auras": Mas com certeza.

Randi: O que quer dizer então que, se eu me esconder por detrás de um muro ligeiramente mais alto que eu, você poderá determinar a minha posição simplesmente por conseguir visualizar a minha aura, certo?

Até hoje, o tal sujeito, ainda não acedeu participar neste simples teste.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Tempus Fugit

É esta a inscrição gravada no bronze do relógio de sol que nos cumprimenta, solitário, assim que chegamos ao cume da ligeira colina, nesta linda propriedade que a todos pertence.

Quanto a mim trata-se de uma representação bastante contraditória com a percepção que eu sempre tenho assim que coloco os meus pés naquele pedaço de terra.
Em vez de fugir, o tempo, parece sim, regressar ao passado e estacionar em meados de 1900.
Tranquilamente, sem pressa alguma.
Aliás, iria jurar que esse mesmo tempo parece-me pairar imutável.

É, de facto, o meu canto preferido nesta fatia do globo.
Seja qual for a altura do ano, sou atingida por uma profunda sensação de serenidade e paz interior, ao absorver os tons, os sons e os odores destas paisagens.

Mackenzie-King, foi um homem deveras impressionante, com uma enorme visão, que nos legou este magnífico pedaço de solo por onde outrora caminharam ilustres personagens como Winston Churchill ou F.D. Roosevelt e se mantém nos nossos dias, tal e qual como ele o deixou.

Neste dia o sol não brilhou.
Permaneceu sempre por detrás de uma espessa camada nebulosa.
Porém a luz não faltou.
Teve sim, outra proveniência.



Para mais colorido, aponta aqui.

quinta-feira, outubro 14, 2004

quarta-feira, outubro 13, 2004

sexta-feira, outubro 08, 2004

Esta noite

Sou bicho-do-mato.
A claustrofobia ataca-me quando me rodeiam estranhos.
De sorrisos afiados, prontos à mordidela.
Apertos de mão que se enlaçam num engasgar do ar que respiro;
esses sorrisos tornados esgares
ao meu olhar.
Só ao meu.

Eu sei.
Sou um bicho-do-mato reles.

Esta noite conto com vocês.
Com cada um de vocês, sem distinção;
estranhos somente ao olhar visual.
De olhos fechados vamos dançar
tu... ele... ela... eu... todos nós!
Ajudem-me a enfrentar a noite que se aproxima.


~~~~~~~~

Só vos queria agradecer por todas as palavras que aqui escrevem, pela presença mesmo sem ser escrita.
Sei que por vezes vos respondo, por outras, não.
Não é por ser indelicada, acreditem.
Nem vou arranjar nenhuma desculpa esfarrapada.
Sou assim... 'um pouco' despassarada.
Um beijo em todos vós.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Troquei-lhe o fio atrás.
As colunas são agora nascente ao rubro de um dos sons que me mastiga o ser.
Prontas à partilha.
No desvaire do momento,
o corpo torna-se independente,
e
entre os meus solavancos ritmados,
no segundo em que esta passagem se ouvia:


I’m sick of the tension
Sick of the hunger
Sick of you acting like I owe you this
Find another place to feed your greed -
While I find a place to rest

Eis que me saltas ao colo!
Abraças-me de tal modo
que o meu e teu balanço rítmico, são um só,
esfuziante!

Só no fim do trecho reparo que tens o mesmo modo, que esta tua mãe, de absorver a música:
de olhos fechados!

(quando formos os dois ‘adultos’ - eh eh eh… esta é uma indirecta ;-) - eu e tu, David, vamos arrasar as pistas de dança! )

segunda-feira, outubro 04, 2004

Budget 2005

Numa das minhas idas à biblioteca, deparei-me com dois folhetos que me atraíram imediatamente.

O processo de criação do budget (orçamento ?) desta cidade começou.

Este ano, pela primeira vez, os cidadãos terão a oportunidade de expressar a sua opinião em relação aos contornos desse orçamento antes que seja aceite pela Câmara.

Um dos folhetos trata de nos dar informação a respeito do assunto delineado.
Com possíveis perguntas e respectivas respostas.
E o outro é o questionário em si.

Confesso que fiquei bastante surpresa e ao mesmo tempo feliz por ver tamanha abertura em relação à actuação directa do público na engrenagem de crescimento de uma cidade.


______________

P.S.: Cá está o dito link.

sexta-feira, outubro 01, 2004

Curiosidade nata

Era meio-dia.
Num dia qualquer desta semana.
Esperavamos o autocarro da escola para o Daniel.

Com as miúdas já na escola desde manhã cedo, a minha atenção diminui para metade, de modo que me delicio com certos prazeres - habitualmente remetidos a segundo plano - como aquele com que me entretinha no momento: o envolvente abraço solarengo de Setembro que se findará num piscar de olhos.

Não me dei conta de como se levantou, nem qual dos dois induziu a esta acalorada 'discussão'.
Quando aterrei (no mesmo plano audível que eles), foi a partir daqui que os apanhei:

Daniel diz: “No! The front of the road is nowhere!!”
David responde: “No… you’re wrong! IT is everywhere…”

Viram-se então os dois para mim, após uns largos minutos de exuberante discussão madura entre dois miúdos de cinco e três, respectivamente.

Os dois: “Mããã… where is the front of the road??”


Esta pergunta dos miúdos transportou-me de novo à minha infância.
Fazemos continuamente comparações de viveres, de acções...

Quantas vezes me lembro eu de ter presenciado conversas em criança, entre adultos e mais jovens e perante a curiosidade, sempre no pico, da criança, a maioria das respostas que essa mesma tinha eram:

- "olha... olha! Mas que palerma! Isso é pergunta que se faça?"

- "... ui! ... que tristeza! Não tens mais que fazer do que fazer perguntas parvas?"


E por aí fora.
O que não faltava era desse tipo de exemplos.

Perante reacções deste género, como pode uma criança tornar-se forte no saber e continuar a querer descobrir para além do que os seus olhitos vêem?

Porque será que temos todo um potencial de querer sabermos mais, mas que tem tendência a sumir com o decorrer dos anos?



quarta-feira, setembro 29, 2004

Lock & Key

No fundo, talvez não passemos disso: Lock and Key

Tudo o que somos,
tudo o que fazemos,
procuramos,
ansiamos...

Tu-do no todo!

Uma sucessão infinita de processos Lock & Key.

E não me apetece esmiuçar mais.
Quem quiser que o faça.
Que me desminta.
Que me ajude a ver de outra forma.
Que me conteste, porra!

terça-feira, setembro 28, 2004

Prelúdio de um todo

Esta caiu cá dentro
e não há meio de se esvanecer.


"So close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
and nothing else matters"

(...)

segunda-feira, setembro 27, 2004

Ela desafiou...

... ao qual eu retorqui!

Um excelente exercício merecedor de uma/s repetição/ões.
Vale a pena ler as demais ramificações que surgiram.

_________________________________________

Tudo

por Riacho



“Tudo?!”, repetes tu, enfatizando no olhar essa enorme admiração, ao mesmo tempo que tentas desenvencilhar-te do meu toque; consegues fazê-lo de um modo delicado, no entanto firme.
Como que este elo surtisse em ti uma poderosa influência que desejas eliminar.
Após um longo suspiro, com os olhos voltados para as tuas mãos, ali pousadas na mesa, desamparadas, sós, balbucias as palavras como que se falasses contigo própria:
“Já está tudo contado… tudo àcerca de mim”, enfrentas o meu olhar e continuas “ cada história que te contei, continha pedaços de mim, simulados, sempre em segundo plano, de modo a não atrair demasiado…”
Olhas em volta, temendo que mais alguém te possa ter escutado revelar algo que te é tão precioso.
Abraço-te num sorriso condescendente, que é ao mesmo tempo indicador do profundo efeito que a tua beleza me provoca.
Pensando bem, não és extremamente atraente.
Não és daquele tipo de mulher capaz de fazer os homens girarem sobre si mesmos ao ver-te passar.
Contudo, existe algo em ti… sim!
Acho que é esse olhar. Um olhar que acolhe.
Uma beleza em segundo plano, como tu própria te defines.
É isso.
Tens algo que cativa o segundo olhar (aquele que perscruta o que está para lá) e nos faz permanecer assim, como que embalados por essa beleza serena.
“Não compreendo essa tua inclinação de te ficares pela sombra”, consigo finalmente pronunciar umas palavras, saindo do transe em que me envolvi e penso “nem tu imaginas o lugar de destaque que ocupas na minha vida, nem nunca me atreverei a dizer-to".

“Já me devias conhecer melhor”, replicas tu com um sorriso matreiro, desafiador “quantos já são?… cinco anos?”
Aceno afirmativamente com a cabeça e mergulho de novo em pensamentos.
Quero que me sigas neste trajecto interno.
Necessito que leias nas linhas do meu rosto os contornos da minha reflexão.
Cinco anos volvidos, depois que nos cruzamos pela primeira vez em palavras, por um daqueles acasos intitulados de “meros”.
Cinco anos depois de múltiplas permutas escritas - conheço tão bem o teu modo de esplanar os sentimentos, que seria capaz de discernir um dos teus escritos no meio de uns cem.
E cá estamos, frente a frente, pela primeira vez. Cada um de nós reflectido nos olhos do outro.
Não sei como pude aceder a este encontro. Nunca quis materializar a nossa já bastante estreita afinidade, com o receio que caíssemos numa relação fútil. Um medo infantil, por certo, de que a realidade não correspondesse a esta imagem de nós que foi escalando vertiginosamente estes anos todos.

Abanas o rosto negativamente, como que a responder a este meu último pensamento e de novo aquele sorriso de menina:
“Anda! Vamos sair daqui”, convidas-me naquele teu modo impulsivo, “este lugar é demasiado pequeno para escutar as histórias que nos vamos contar”.
“Agora és tu que me desafias”, penso eu, e deixo-me levar por essa tua jovialidade inocente de menina perdida no tempo, sem idade.

Pagamos o jantar, ligeiramente tocado, aliás, tão absorvidos estavamos na conversa, e saímos lado a lado.
Enquanto esperavamos que o trânsito nos oferecesse uma abertura para atravessarmos, descaio o meu olhar na tua mão esquerda, ali mesmo ao meu lado e, sem saber como, dou comigo a entrelaçar os meus nos teus dedos, muito lentamente, a medo.
Procuro uma âncora nos teus dedos.
Dedos que tanta vez já me ampararam à distância, em cada texto teu que li.
Desta vez não opões resistência ao toque.
Levantas ligeiramente a face, olhas-me, um carro buzina frenéticamente avisando que estamos no seu território, distrai-nos, quebra por segundos o fio que ali se formou…

“Merda!”, acordo sobressaltado, “vou chegar atrasado.”
Olho o relógio, apreensivo.
“Ainda estou a tempo de a ver, mas… será que devo ir?”
Não peso os prós nem os contras.
Levanto-me num ápice e, sem me dar conta, lanço pelo chão da sala aquelas folhas de papel.
Cada uma delas contém histórias tecidas pelos teus dedos.
Lanço mão a um casaco, atiro-o sobre os ombros e saio de casa.


(escrito a 17 de Setembro, 2004)

domingo, setembro 19, 2004

A minha alma traja negro

Carreguei-te no pensamento cada minuto deste dia após aquele telefonema pela manhã.
À medida que as horas se alargavam, os meus passos pesavam cada vez mais com o crescente amontoar de pensamentos.
E foi-me muito difícil seguir o dia como se nada tivesse acontecido; aguentar as brincadeiras e o riso das crianças, que alheias a este sofrimento meu, continuavam no seu mundo de faz-de-contas habituais.

"Foi o Durão...", começou por dizer a minha mãe.
Durão! Nunca compreendi muito bem o que levou os teus pais a te colocaram este nome tão pouco usual como nome próprio e o mais interessante é que mesmo depois de to terem retirado (por lei), continuaste a ser Durão para nós.
Como se tratasse de um nome de código, afávelmente pronunciado, só entre nós, de um modo especial.

O que se seguiu naquela conversa telefónica, fez com que eu, por mais forte que tentasse ser, desabasse numa explosão de emoções que me paralisaram a fala. Tive que desligar apressada. Não consegui proferir nem mais uma palavra.
Quero saber: Porquê!
Não o porquê de teres sido tu (a essa pergunta sei que virá o derradeiro esclarecimento, mais tarde, um dia).
Tento é racionalizar o que se passou comigo, ali.
Sei tão pouco de ti e no entanto o choque foi tal que me abalou os alicerces.
Imagina tu!... nem a tua idade eu sabia!
Um puto que eras.
22 anos de sabedoria.

Teria sido porque senti em mim a terrível impotência que a tua mãe deve ter sentido, ao querer abraçar-te, tentando dar vida a esse corpo a que um dia lhe deu existência?

Será que foi por sentir que a ordem natural tivesse sido alternada e por conseguinte outros elementos deste "elenco familiar" a que pertencemos, também eles, poderão seguir o mesmo caminho?
(porra!... és - eras :-( - o segundo mais novo!!)

Ou teria sido por achar que tinhamos tanto em comum e nunca trocamos mais do que carinhosas palavras enquanto crianças?
Sim... acho que ficamos para sempre, com a imagem um do outro, pelo que fomos na infância.
Lembras-te... quando aí estive há dois anos, eu quis estreitar esses laços. Tornar-te mais chegado.
Vejo grandes semelhanças entre ti e a Jessica... sois parecidos física e mentalmente; por isso quis que fosses tu o padrinho dela.
Não deu para isso, paciência, mas fiquei bastante triste...

E porque a distância assim o permitiu, se me lembro de ti agora, vem-me à mente a tua figura de menino pequenino.
Lá aparecias tu com o avô na "carripana", a entregar as compras pela vizinhança.
De semblante muito sério para a tua tenra idade, adoravas ser o parceiro dele a jogar à "sueca".
Sabes... sempre admirei (e o orgulho em ti estava ali de mãos dadas também) como conseguia essa tua cabecita ainda tão inexperiente (devias ter uns 5 anos), memorizar aqueles naipes todos!


O vale do Ave viu-te crescer.
Coimbra acabou de te formar em Medicina.
Um emprego esperava-te no ramo que sempre te interessou.
E Ponte de Lima ceifou todos os sonhos.
Teus e dos que sabiam do teu potencial.

Foste precoce em vários aspectos da tua vida.
Até na morte.

Até um dia, querido primo.
(..........)

quarta-feira, setembro 15, 2004

:-)

E depois daquela carga de vocábulos acabados de expelir, eis que me despeço... temporáriamente.
Voltarei, com muito menos tempo, menos assiduidade... com muitos menos.

Passarei, por certo, a falar mais com os olhos que com as teclas.
Passarei menos tempo a ler-vos (muito contra a minha vontade, mas enfim...)

São ciclos.
(como diz o meu 'amigo' Mataratos)
E este é um novo que começa.

Beijos a todos e a cada um de vós em especial.

Um desabafo (por falta de melhor título)

Não tenho por hábito reger-me por generalizações, mas devo admitir que nos são úteis e servem como fio-de-prumo na descrição de povos, por exemplo.

E depois, claro, há deviações a esse fio, como em todos os parâmetros que nos guiam.
O ideal seria que o geral se desse sempre pela positiva (o que nem sempre é o caso), que as excepções do negativismo formassem, essas sim, o geral.
Uma utopia, isso sim!

Tomemos o caso da imagem geralmente feita aos portugueses.

Há vários caracteres que nos generalizam (concordam, não?), mas aos meus olhos existem dois que sobressaiem dos demais:
- A hospitalidade;
- A vaidade.

Será que existe correlação entre as duas?
Se não fossemos tão hospitaleiros, tornar-nos-íamos (isto estará bem escrito?) menos vaidosos?

Eu gostava de focar aqui esta última, a vaidade.
Quanto a mim, uma vaidade exacerbada.
Uma vaidade que me marcou desde tenra idade, pela negativa.

Compreendo que se goste de vestir bem... perfumar-se da cabeça aos pés (...cuidado com as alergias!)... ter que sair por 5 minutos para comprar pão e passar meia-hora a "arranjar-se"... deslizar pela nave da igreja a nova fatiota (que por azar é igual à da vizinha!! @#$@%&)...
Eu compreendo isto tudo (embora não pratique nem aceite), mas quando esta vaidade escapa da aparência física que nos envolve e atinge o corpo físico em si... isso doi!

Houveram frases que ficaram marcadas na minha memória e afectaram mesmo a minha personalidade.
Frases segredadas por entre as mãos que se queriam fazer ouvir.
Olhando de lado o "objecto" dessas afirmações peremptórias.
Frases e olhares que me queimaram, como quem queima o gado com ferro em brasa.
De tal forma que desde que entrei no 1o ano até ao 12o (ou seja, toda uma adolescência), nunca usei saia!

Com certeza outra pessoa teria agido de outra maneira.
Se calhar só eu me escondi desta forma... porque sou fraca (aliás, fui mais fraca). Demasiado sensível para fazer ouvidos de mercador.

O que me põe a pensar em outros alvos que existem, casos ainda mais graves em termos de diferênça física.
Quantos e quantos não haverão por essas ruas fora a serem "vaidosamente analisados" por quem possui as "medidas certas"!

Portugal é uma sociedade que segrega. Isola. Atraso desolador de mentalidade.

As excepções existem, como já acima referi, eu sei... só é de lamentar que esses não componham um todo mais aceitável, mais justo.

~~~~~~~~

Como complemento de informação (e não é que o seja obrigada a fazer; é mais uma necessidade muito minha), acrescento que a minha diferênça física deve-se ao facto de ter sido atingida por Polio, tinha eu uns 5 mêses de idade.
Após algumas intervenções cirurgicas, feitas já tardiamente (assim era a medicina nessa altura) na minha adolescência, permaneci com uma ligeira desigualdade nos membros inferiores.
Nunca me impediu de andar, saltar ou correr como uma doida que (ainda) sou; mas que raio... também nunca pude entrar numa sapataria, comprar qualquer tipo de sapato e sair com eles nos pés.

Mas que vaidade a minha!

Dune

O título é uma passagem para um mundo imaginário, criado por Frank Herbert (e posteriormente seguido pelo seu filho, Brian).
Fala-nos de um lugar para além dos nossos sonhos.
Um filme (cá venho eu armada em crítica cinematográfica) para além da nossa imaginação.

Não lhe valeu nenhuma menção honrosa, nem a actuação dos actores é lá muito famosa, fica muito, mas muito aquém das novelas narradas pelo seu criador; mas vale pela oportunidade que nos dá (a quem o deseja, é lógico) de fazermos o uso máximo, que nos seja permitido, de algo que normalmente fica pelos, vulgos, prazeres sensoriais: a imaginação.

segunda-feira, setembro 13, 2004

A hand that pushed me

Start.
My Music.
(...)
Play all.

(And so it did... ... extremely well... as usual :-) )

A golden bird that flies away... and reaches the heart... within.

domingo, setembro 12, 2004

Duas saliências

Se por um mero acaso eu fechasse os olhos
(para sempre)
neste preciso momento;
veria com bastante precisão duas linhas divisórias entre o alfa e omega da minha existência,
que se destacam das várias que fui tendo ao longo dela.

A nível de solidez física, existe o antes e o depois dos meus filhos.

A nível de segurança no pensar, existe o antes e o depois de ti.

Comentário

A este texto da AQ.
Cá vai (ahamm... afinando a voz :-p ):

- Ah sim!? (de sobrancelhas franzidas)... e agora como faço para que 'ouças' o que me passa pela cabeça assim que te acabo de ler? (a fazer beicinho).
Olha que um fonema daqui aí não fica barato! (a piscar o olho na brincadeira)(... é que nem e-mail, nem o caraças! #%@&%)

:-)

Tu fazes aquilo que achares seja melhor para ti... e mais nada!
Beijinho AQ

Concêntricos

sábado, setembro 11, 2004

De volta à fauna

Atraiem-me os animais em geral, cada um com as suas particularidades distintas.
Não é por acaso que os documentários que focam a Natureza, sempre foram desde criança os meus preferidos e ainda continuam a sê-lo.

No entanto devo confessar que tenho uma especial preferência por aqueles que possuem um porte calmeirão, paciente, majestoso...

E majestoso é, sem dúvida, o vôo deste passarão - Garça Real.
Admiro-lhe aquelas asas pesadonas e enormes; aquele pescoço comprido que se dobra para melhor cortar o vento... é incrível como se consegue manter no ar!
Como que voasse em camera lenta.

(Não me consegui aproximar mais dele, daí não ter uma imagem mais nítida. Se bem que o dia de nevoeiro também não tivesse ajudado)


quarta-feira, setembro 08, 2004

(Entre tu e eu)

(No fundo... o que nos une, de uma forma muito enigmática,
é um instinto animalesco.

Não sei como o sei.
Escusas de perguntar.

Só sei que o 'É'.


Assim como os pássaros deixam de cantar ou outros animais fogem em debandada quando uma calamidade se aproxima.
Não se avista o perigo, no entanto eles sabem-no.
Não se consegue explicar como.


É-o.
Simples e sem enfeites)

terça-feira, setembro 07, 2004

O regresso às aulas e ao passado

Já passava bem da 1:00 da manhã.
O primeiro dia de escola amanhecia dentro de poucas horas.
Estava eu atarefada, de regresso ao redemoinho na preparação dos lanches, quando o balcão da cozinha se transforma numa eficiente linha de montagem:
- clic!... clac!... troc, troc!... zás, pás, trás!

É em momentos destes que entro em profunda reflexão, enquanto os dedos trabalham fervorosamente, a mente divaga, mergulha em poços anteriormente vividos e pasmem-se... dei comigo a pensar em tomates!
Estranhas situações a que somos catapultados pela memória.

Tinha eu uns 18 anos.
Num país estranho.
A primeira vez que permaneci longe de casa por vários meses.
Longe de tudo e todos que nos fornecem aquela suposta aura de seguridade.

Tinha decidido experimentar, juntamente com uma amiga minha, essa aventura de que é ser-se "au-pair".
E foi numa das aulas de inglês que tinhamos semanalmente (uma classe repleta de jovens dos quatro cantos do mundo!), que aprendi a apreciar o verdadeiro sabor do tomate.
Sim... claro que eu já os comia, mas com um molhito por cima que disfarçava em grande parte a textura deste delicioso fruto (Sim! É fruto!).

A professora, nesse dia, pede-nos que nos juntemos a pares (fiquei de "braço dado" com o Alain... um francês castiço que tinha sempre um largo sorriso estampado no rosto) e dá-nos a escolher um entre vários legumes e frutos à disposição.

Muito contra o meu gosto (eu tinha já os meus olhos vidrados num kiwi...), lá nos deparamos com o tomate.
Tinhamos que o analisar... cortá-lo... apreciar as suas entranhas... admirá-lo de cima a baixo atentando em pormenores que nos escapam no dia-a-dia voraz da fome e... escrever sobre ele.

Acreditem. É um exercício por demais benéfico.
Preciosa ginástica mental que nos permite pular do real para o imaginário num abrir e fechar de olhos.
Lembro que nós optamos por descrevê-lo sob forma de prosa:
- vimos um labirinto naquele emaranhado de túneis, imaginamos duendes e fadas que tal!...
Já lá vão tantos anos que os detalhes, para sempre se foram e tenho realmente bastante pena de não ter ficado com um exemplar!
(Naquela altura estava lá eu interessada em ficar com um texto que me fale em tomates! Havia tanto para conhecer! Foram uns dezoito anos muito prolíferos em novas experiências)

O que é encantador são estas associações que passamos uma vida inteira, inconscientemente, a realizar.
Para cada indivíduo que conhecemos ou local que frequentamos haverá sempre um pormenor que lhes ficará permanentemente ligado.
Como que nos quisessemos assegurar que nunca serão esquecidos, talvez... sei lá!

Sempre que vejo um tomate, é automático: revejo mentalmente o Alain!

In this concrete jungle...

... white flags are always 'off'.



JUST listen and enjoy every decibel of it...
(click: Music; Albums; 01 White Flag. video)


(...)
Well I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
(...)


Dido - White Flag

domingo, setembro 05, 2004

Solfejo de subsistência

Tenho uma pasta que contém pedaços...
Grandes fatias de uma vida que me foi, digamos, oferecida a ouvir.

Como que dois passados se moldassem num só, essa passou também a fazer parte da minha vida, sem no entanto a ter vivido fisicamente.

Hoje...
Não a consigo abrir.
Com receio das possíveis sensações que daí poderão suceder.

Porque sei que essas mesmas serão um prenúncio do devir.

Tempo

É de surpreender quando nos deparamos com uma fonte inesgotável de memórias que sobreviveram de uma relação mantida num breve espaço temporal.

Em contrapartida, outras se estenderam durante longos anos sem deixarem os mínimos vestígios.

Daí eu me questionar se o tempo e as suas múltiplas subdivisões, terão assim tanta influência, como de costume se atribui, no decurso de uma relação.
Não suponho ser ele a peneira qualitativa numa ligação.

Assim foi a minha noite passada

Se desejam passar uma noite em branco, com os olhos fixos no tecto, desviando-os a cada mudança de negrura nocturna procurando sombras que esvoçam abruptamente, aconselho (quem ainda não viu) um excelente serão na companhia desta encantadora criatura.

Uma experiência única.
O pós-filme.

sexta-feira, setembro 03, 2004

GMO's ou OGM's

Tanto faz, o sabor é igual.

E sabe a quê?

Ora bem... sabe a Organismos Genéticamente Modificados.
Três enormes palavrões, que se os dizemos de uma só vez até assusta, e que designa certos alimentos aos quais lhes foram modificados os genes originais como forma de melhor alimentar um planeta superpovoado, conseguirem obter plantas mais fortes capazes de resistir a pragas de insectos, evitar o abusivo uso de pesticidas e por aí fora.
Nao vou entrar em detalhes mais aprofundados pois existem várias páginas às quais podem aceder e obter informação mais detalhada (como por exemplo esta aqui em português http://www.agroportal.pt/a/2001/jpicarra.htm).

O meu problema está em aceitar a "ingestão" destes organismos.

Com muita franqueza vos digo que não sou de acordo em modificar a natureza do que quer que exista, assim como não admitiria que modificassem a minha.
E quando o homem se promove a criador de novas espécies, misturando genes daqui com outros dali... bolas!
Tenho um pressentimento que vai acabar mal e o caldo vai-se entornar.

E as minhas dúvidas pairam nebulosas e carregadas a respeito deste assunto:

- Efeitos secundários desta práctica? Existem? Quais?
- OGM's ou pesticidas? ... ou alternativas?
- Avisar o consumidor com produtos devidamente rotulados? Faz-se?

É melhor parar por aqui...

Eu cá sou uma agricultora de meia tigela, que quando chega a Primavera dá meia volta à terra, arejando-a devidamente (faço atenção à rotação do solo e tudo!), escolho umas poucas de sementes daqueles produtos que mais comemos e... toca a cavar.

Delicio-me a ver as plantas germinarem e ao mesmo tempo ensinar aos miúdos que o fruto vem a seguir à flor e que as joaninhas são uma alternativa natural aos pesticidas e... ...

Como já deu para notar, não utilizo pesticidas nem herbicidas (haja terra para tudo, tanto ervas daninhas como couves!... também dá gosto arrancar os verdes nocivos), por conseguinte, noto com bastante facilidade que existem hostaliças e legumes que florescem e produzem maravilhosamente bem e nao existe insecto que os ataque.

Um bom exemplo disso é a vagem (ou feijão-verde).
Verão sem um prato destes, não sabe a Verão!


Já me passou bastantes vezes pela cabeça voltar a uma economia de subsistência - criar umas galinhas, uns coelhos, ter um pedaço de terra com o essencial...
Só tenho é que me mudar para um local mais ameno porque este aqui, no Inverno, só produz mesmo é pingentes (de gelo).

Que deixem a Natureza seguir o seu rumo, é o meu lema.

Vou ser um bocado dura agora...
E se o maior problema é mesmo ter um planeta superpovoado, porque não faz o humano o mesmo que fazem os lemmings (desculpem, mas não sei a tradução) face ao mesmo problema?


~~~~

Esse seria outro motivo de discussão:
- o superpovoamento.

Ao passo que em certos países isso se verifica, noutros passa-se precisamente o contrário.

É só paus de dois bicos para onde quer que se olhe!

quinta-feira, setembro 02, 2004

O som do meu despertar

Enfiei-lhe uma cana de fora-a-fora, na diagonal, deixando cerca de 20 cms de cada lado para que pudesse aterrar.
Coloquei os seus poucos apetrechos alimentícios pendurados do lado de fora.
Adornei o exterior com mais uns galhos roubados à natureza e de seguida, meti-lhe as mãos em cima.
Após umas pouquíssimas tentativas, lá consegui resgatá-lo daquele refúgio feito lar imposto e dar-lhe um pouco mais de espaço para os seus movimentos.

Estou a falar do nosso canário.
Está connosco há cerca de 3 semanas apenas. Um pássaro tornado oferta que fizeram aos miúdos (sim... porque não sou eu que lhes iria comprar um; dar de mão beijada uma nota de $100!... não sou apologista de se comprar vidas).
Só não o devolvo à natureza porque isso seria o mesmo que lhe passar a certidão de óbito.

Escusado será mencionar o grau de alegria dos petizes!
(versus a completa estupefacção do passarinho)

Por pouco não os via a eles próprios voarem ao redor da ave, tal era a euforia.

Mas o meu sujeito deste texto não são eles, mas sim o canário.
Pasmei assombrada com a reacção dele àquela abertura inesperada de liberdade.
Julquei eu que o pequeno ser, assim que se sentisse fora de grades, se poria em fuga e voasse, voasse até cansar.
Qual quê!
Quase nem sabia fazer uso das asas.
A liberdade ao seu dispôr e não foi capaz de se afastar daquele espaço onde tinha a certeza de ter o seu sustento.

Vou-me manter atenta ao desenvolvimento dele perante esta sua nova realidade e registar mentalmente o progresso (se o houver).

~~~~

Se por acaso denotaram alguma vaga conotação metafórica naquilo que acabei de escrever, podem estar certos de que foi exactamente esse o meu intuito.

Quanto ao canário mesmo... passo, já agora, a apresentá-lo. Chama-se Yolk, esta miniatura de soprano encantador.
(porque será que os garotos insistem em dar nomes a tudo quanto vêem? ... imaginem que, enquanto estivemos ausentes, nos "enfiaram" 20 peixitos num pond (laguito...?) que fizemos no jardim; e não é que os marotecos inventaram nomes para cada um deles?!)


(era para ser um pequeno video-clip mas a página está em obras)

Que cheiro é este?

Pela manhã, o Daniel levanta-se, dirige-se à porta da frente, espreita pela frincha da porta, mete o narizito no ar; dá meia volta e vem ter comigo com ar espantado, olhos arregalados, informa-me, quase solenemente, que "Já cheira a inverno lá fora!"

Para quem não conhece, o Daniel é um petiz de 5 anos (filho desta mãe), onde a traquinice começa a acalmar para dar lugar ao estado de alerta e percepção dos mínimos detalhes que o rodeiam.

E foi com esta notícia/choque que comecei o meu dia!

Não é que eu deteste o Inverno!
Muito pelo contrário.
Simplesmente cresci habituada a uma cadência diferente na transição dos equinócios e solstícios; e por muitos anos que aqui viva (espero não serem muitos mais!... aqui), nunca me irei habituar à longevidade do Inverno, à quase ausência de Primavera e Outono (por sinal, a minha preferida) e ao húmido e curtíssimo Verão.

Já estou mesmo a vê-la... ali estendida quase que perpétuamente.
De uma frieza cortante.
Aquele manto alvo que se projecta cá dentro... na alma.

Quills

Foi este um dos peixes que veio por arrasto no dia em que fui apanhada na teia de Cronenberg e tive a oportunidade de apreciar ontem à noite.

Garanto que valeu bem a pena ajoelhar-me ao nível da prateleira onde os "Q's" tranquilamente repousam, acumulando poeira, longe do olhar e mais perto dos passos apressados que entram e saiem num relâmpago, à procura dos filmes que encumeiam o top.

Como foi que traduziram o título para português?
Penas...? Plumas...?

Um "must", digo eu.
Para quem gosta de recuar no tempo e entremear-se na mentalidade de outroras tão longínquos que custa a acreditar que um dia era assim que se vivia e sentia.

A sempre presente dualidade sensorial/intelectual, que acompanha o desenvolver humano desde os primórdios.
Aliados? Inimigos?

Vibrei com aqueles fragmentos em que ele recorre a diferentes modos de materializar os seus pensamentos:

- O frango assado... o copo de vinho... os lençois;
- O espelho quebrado... o sangue dele que goteja com vida para dar por sua vez vida às suas letras;

Enfim... sublime mesmo e acho que fico por aqui senão ainda estrago a delícia de quem ainda não viu e poderá querer ver.

Só mais um detalhe... o filme retrata fracções da vida deste senhor.

terça-feira, agosto 31, 2004

Spider e companhia

Segui a sugestão do Vítor, aluguei o tal filme (Spider) e de rastos trouxe também uns outros quantos.

Por casualidade escolhi e vi no mesmo dia, Secret Window (com Johnny Depp), que foca de certo modo o mesmo tema e por sinal um pelo qual eu me interesso bastante.
Deve ser com certeza para causar mais impacto e por consequência, mais venda de bilhetes, que os realizadores cinematográficos (ou melhor dizendo, os escritores) insistem em projectar uma imagem negativa das pessoas atingidas por esta dissociação psíquica.

Se bem que não é todos os dias que temos o prazer de dar de caras com semelhante indivíduo como o é J. Forbes Nash, podiam mesmo assim retratar casos de natureza menos "escura".
Quanto a mim só cria ainda mais afastamento em relação a estas pessoas, alargando o poço em vez de informar pela positiva.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Um leve sopro

Foram quatro os anos de interregno da força laboral.
Entrei em acção no passado fim-de-semana e se bem que não tenha estado "inanimada" estes anos todos, o que é certo é que fiquei de rastos!

Benditos "patrõezinhos" que tive até agora; não me estafavam deste modo e sempre permitiam uns descansos intermédios a meu bel prazer.

Mas o corpo habitua-se de novo.

Agora... o que mais estranhei foi o que senti logo nos primeiros minutos assim que lá cheguei.
Eu, tão habituada que estou a proteger - ao mínimo indício de "perigo", o meu mecanismo de defesa emite logo uns arrepios pela espinha acima accionando o modo de "protecção/ataque" - eu, que estou sempre uns largos passos à frente deles, antevendo percalços; senti-me só, desarmada, frágil!
Ali, perante estranhos.

Será que afinal, em vez de ser eu a "fortaleza", são eles, os miúdos, que me permitem e me conferem esse estatuto?

Fiquei a matutar nisso...

E não é que hoje, por coincidência (ou não), sinto que mais umas penugens se fazem desaparecer para dar lugar a penas mais fortes que os sustentem e lhes permitam voar sozinhos e seguros.

Esta noite, terei menos uma face a quem dar um doce beijo e uns bracinhos rechonchudos a apertar.
Só hoje... a primeira.

Vou recorrer aos desenhos dela... aqueles a que ela com tanto empenho se entrega e dizer-lhe:

- Dorme bem, Pipoca... (beijo)

sábado, agosto 28, 2004

Sem Título

Lembras-te?

Pois foi... foi este o título que dei - bem, na verdade nem dei, deu-se - àquele poema.
Poema?
Continuo a preferir chamar-lhe de arroto poético.
A esse e a todos os outros que tracei bruscamente dando tudo de mim naquele momento.

Deves lembrar bem ao que ele incitou.
Sei que te toquei e disso muito me congratulo... banho-me nesse pensamento constantemente, porque não é fácil atingir-te deste modo como o fiz, sem mesmo eu o querer.
Deve ter sido um daqueles instintos horríveis que por várias vezes presenciaste em mim e me povoam...

E sabes?... Sem Título foi também tanta, mas tanta coisa que se passou entre nós.
Verdade seja dita, nomear para quê?
Eu já um dia o disse e se ainda aqui não escrevi, pensei-o:
acredito que existam sentimentos, sensações em que para as quais ainda não existam palavras que as definam.
Nem nunca irão existir.

Sempre, entre nós... e é de sublinhar este sempre, o mais importante nunca foi dito.
E continua a sê-lo.
Mesmo agora, neste preciso momento.
E o pior é que ambos o sabemos e nada podemos.

(não sei se publique estas linhas... são verdadeiras memórias imperceptíveis a quem possa ler... mas tive que as materializar... aqui neste papel... a estas horas da manhã porque ainda me desvias o sono)

~~

(... por agora :-) )

quinta-feira, agosto 26, 2004

Gosto que a vida corra a "passo" de bicicleta



Comparo esta sensação que temos enquanto pedalamos, como a que devemos ter quando se voa.

Encetamos viagem com o vento a bater-nos no rosto.
Nem rápido...
Nem vagaroso...
Uma velocidade que permite apreciar o que nos rodeia, detalhes que nos escapam no corre-corre diário e, ao mesmo tempo, conseguimos chegar mais longe!

quarta-feira, agosto 25, 2004

A minha originalidade só reside a nível de DNA.

E mesmo ao formular este pensamento, não devo ser única.
No entanto, e porque de ninguém a ouvi, nem a li em lado algum, esta reflexão é-me exclusiva... enquanto em mim.
A partir do momento em que sai, a todos que a lêem pertence.

m. leal
25 Agosto 2004

Foi só um sonho

Estava eu sentada na sala, olhava preguiçosamente o dia banhar-se de sol matinal - por coincidência sonhava de novo de olhos abertos - quando a Verónica aparece e relutante senta-se ao meu lado.

Quando lhe vejo esta pequena resistência, acrescentada do ar perdido nas suas feições de menina, sei de imediato o que aconteceu.
- Tiveste outro sonho mau, não foi? - perguntei-lhe eu com um sorriso e um afago nos seus cabelos, ao que ela nem um "sim" murmurou, acenou
somente com a cabeça e neste momento as lágrimas desatam a cair.
- Conta-me lá... que se passou no sonho?
- I dreamed you died!...

Agora já não havia intervalo entre as lágrimas que corriam.
Mostrando-lhe uma cara de curiosidade enorme e sem demonstrar o
mínimo de terror por esse tema, perguntei-lhe:
- Hmm... como foi que eu morri?
- A lady was going to kill you..
- A lady?... como? Como foi que ela me matou?
- Well... you didn't really die... I saved you!

Abri-lhe um sorriso que nos aqueceu ainda mais que os raios de sol que
insistiam em espreitar pela janela, beijei-lhe as faces eternecidamente.
- ... e como foi que me salvaste?
- ... well... I asked her "How would you like it if I killed your mother?"
- What happened next? - acabo sempre por descair contra-vontade na
"anglofonia".
- I don't know... I woke up!

~~~~~~~~~

10:00
25 agosto 2004
Verónica - 7 anos

terça-feira, agosto 24, 2004

De cara lavada

Por agora parece que fica assim.
Antes que estes "html's" vão todos pelo ar.

segunda-feira, agosto 23, 2004

São coisas que me dão

Regra geral sou mulher de poucas palavras (a sério!), no entanto tem-se dado a oportunidade de me alongar para além desse meu costume, em diversos textos que já aqui coloquei.
Isto porque nao tenho propriamente a disponibilidade, não tanto de tempo mas sim do ambiente propício à concentração necessária (parece contraditório, mas nao é); entrar aqui, fazer das teclas minhas confidentes e descarregar nelas o que vai cá por dentro.

(vocês não querem saber quantas vezes o meu nome é proferido entre estas paredes, querem?)

Costumo por isso, escrever primeiro em papel (isto não é fazer batota, é?) naqueles minutitos livres (e faço-o às prestações!), intercalados com os minutões que mantêm esta mãe-a-tempo-inteiro, ocupada.

Daí haver maior profusão de ideias que parecem sair a jorro.

(acho que já perdi o fio da meada original...)

Onde eu quero chegar é aqui:
- aparecem-me súbitamente, como que do nada, certos pensamentos, aparentemente sem nexo; emergem-me à consciência assim como que escritos num espelho embaciado após um duche bem temperado.
Saiem aos tropeções... muitas vezes sem ligação plausível entre si.

Dantes, eu costumava aceitar a sua chegada e voltava a remetê-los lá para o fundo do esquecimento, principalmente pela falta de ricochete necessário ao seu desenvolvimento.

Agora... apetece-me publicá-los.
Já muitos vieram e foram.
Outros virão e serão aqui selados.

Mas... não temam.
Não vou exigir que me "abatam".
Tão simplesmente que fiquem desde já preparados para tal eventualidade sem nexo.
(como o post anterior, por exemplo).

domingo, agosto 22, 2004

No limiar da dor

Uma torneira.
A água que corre.
Olhar estarrecido no fio que brota.
Queima?
Gela?
Que sentes?

A ténue linha que separa opostos.

m. leal
agosto '04

sábado, agosto 21, 2004

Da família das ninfeáceas

Depois da Orquídea, esta é a flor que exerce sobre mim um claro fascínio:
- o Nenúfar ou Flor de Lótus, entre outros nomes.

Segundo os entendidos em linguagem de flores, o seu nome significa 'pureza de coração'.
Li algures também que suaviza os problemas.

Com certeza não passam somente de conjecturas que aliadas à sujestão pessoal de cada um, surtirá por certo efeitos variados e positivos, consoante o sujeito.

Mas que é um deleite para os olhos... lá isso é.
Se acrescentarmos ainda o som calmante da água que os banha... harmonia perfeita!

quarta-feira, agosto 18, 2004

... que asas longas eu tenho! Servem para eu 'cantar'!

Se eu tivesse porventura falado na tal lenda infantil em que ela contracena com a formiga, aposto que a iriam visualizar rapidamente!

:-)

Este ser traz-me à lembrança cada singelo verão quente vivido em Portugal.
Aquelas tardes cálidas e pesarosas.
Aquele ar seco e ardente que deturpa a visão.

Comiam-se umas boas talhadas de melancia para saciar a sede que já nem a água conseguia surtir efeito e depois, de barriga reconfortantemente inchada daquela líquido fresco, as pestanas tornavam-se cada vez mais pesadas, ordenando dócilmente às pálpebras para se fecharem.

A música de fundo era essa... (mais zumbido que canção) a daquelas asas longas da cigarra que, de tão costumeira, já quase se tornava imperceptível aos meus ouvidos.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Metamorfose

Não... não vou dissertar sobre Kafka mas sim falar sobre algo que vi ontem e achei extraordinario; muito mais do que ler sobre isso é vê-lo acontecer diante dos nossos olhos.

Como de costume, foi o Daniel que deu por tal fenómeno.
Ele está sempre em cima de qualquer acontecimento no que se refira a 'bichinhos' seja de que tamanho ou formato tenham.
E enganam-se se pensam que é para lhes espetar com o pé em cima... não senhor!
O miúdo tem uma verdadeira paixão por eles.
Descobri isso desde o dia em que encontrei duas minhocas, como animais de estimação, dentro do bolso das calças!
(ainda fui a tempo de o esclarecer que elas não viveriam muito tempo sem terra e humidade e lá foi ele todo ligeiro devolvê-las ao solo)

Ficamos embevecidos, durante pelo menos 2 horas, a olhar este insecto na sua transformação física.
Foi tal o frenezim à volta dele que até honras de ser visto pelos vizinhos ele teve.
Mas o que será?


Toca a fazer umas buscas no computador (bendita tecnologia no que diz respeito a assuntos de aprendizagem) e finalmente sabiamos o que estavamos a admirar.

E vocês?
Sabem por acaso do que se trata?
Quem souber... recebe um prémio! :-)
(uma das fotos dele, pode ser?)

Para quem tiver a mesma paciência que eu tive para as tirar, podem ver aqui o processo a que assisti.

DICA:
Fica adormecido durante 17 anos no subsolo (outros, 13 anos) para depois sair e entrar nesta transformação.
(se digo a outra dica, acertam todos!)

quarta-feira, agosto 11, 2004

Broken


...
You got away
You don't feel me here anymore

The worst is over now and we can breathe again
I wanna hold you high, and steal my pain..
Away
There’s so much left to learn, and no one left to fight
I wanna hold you high and steal your pain
...

~ Evanescence

As minhas escaladas

Estas semanas que estive ausente do meio ambiente em que estou de momento inserida, fizeram-me regressar ao passado (e de certo modo foi o passado que, por sua vez, me fez agir de modo a escolher visitar o lugar onde fui).

Viajando mentalmente no tempo, recordo-me daquela época em que por tanta e tanta vez nos confrontavam com esta derradeira pergunta:
- O que queres ser quando fores grande?
(sorrio neste preciso momento, ternamente, perante tal pensamento)

Por incrível que possa parecer, nunca aspirei a cargo algum de importante... nunca tive um sonho supremo que quisesse atingir, daqueles que mudam com cada oscilação da juventude... nada, nada de imponente a querer.

A não ser... uma certa fantasia que de tão pequenina em grandiosidade acabei por deixar estendida no percurso dos meus dias.
- Viver num barco!

Num daqueles barcos de madeira gasta, esbatida pelo sal, pelo tempo e pelo vento... daqueles barcos que no seu silêncio cantam as mais incríveis aventuras imaginadas...
Sendo eu de natureza contemplativa (se bem que ao mesmo tempo inquisitiva), tal seria o cenário ideal para me satisfazer.

Os anos voaram ao meu redor.
Tal turbilhão em que fui apanhada.

Sento-me, desafiante, nestes trinta e sete anos e apercebo-me que practicamente tudo o que me aconteceu; os passos mais importantes que dei; as viagens que fiz; foi como que de certo modo me tivessem levado a isso de olhos vendados, como quem joga à cabra-cega.
Muitos dos passos que dei, cheguei mesmo a fazê-lo, não por mim, mas por quem me era chegado.

Isto não é de modo algum um queixume.
Se for a pesar na balança de valores internos, eu não estou descontente com a linha que percorri, só que não foi directamente a minha escolha.

Agora, EU traço as linhas.

Visitar a Rota dos Farois foi um pequeno passo, no meio de muitos outros que pretendo (e estou) a fazer.

Ah... e o tal barco!
Voltou a 'habitar' cá dentro.

domingo, agosto 08, 2004

Hopewell Rocks

A poeira vai assentando, amontoando-se nas frinchas, que por sua vez continuam a aumentar de número.

Assentar, assentei eu também os meus pés no fundo do mar, em tempo de maré baixa.

No fundo deixei a minha marca.
Esse fundo para sempre em mim ficou marcado.



terça-feira, agosto 03, 2004

Esta 'casa' já cheira a mofo ;-)

De volta ao betão armado,
ao asfalto apressado,
aos semblantes carregados.

Trouxe comigo o sabor rejuvenescedor do sal,
o canto das baleias à solta
e a vontade de sair daqui.


quinta-feira, julho 15, 2004

Até breve :-)

 
 
Vai ser uma despedida muita breve e rápida. Assim como serão também as semanas que estarei ausente.
 
Na ausência, este blog vai, sem dúvida, manter o meu espírito alerta, para aqui poder depois alargar a minha visão.
 
A todos vocês, um beijo.

Enxoval

Pronunciem essa palavra diante de mim e o resultado será o mesmo que eu sempre tinha na minha adolescência:
- ficava "aterrorizada"!

É verdade... ainda sou do tempo em que por essa altura , todas as jovens, pelos seus aniversários, eram-lhes oferecidas as mais variadas "barbaridades".
Está certo... concordo que algumas até tivessem utilidade prática... mas muito poucas.
Desde bonecadas de todos os géneros e feitios, que só serviam para acumular poeira, até uma repetição infernal de toalhas de mesa estampadas!
E logo eu...que adoro ler desde pequenita, nem um livro me ofereciam.
 
Ainda bem que o meu pai tinha uma visão bem mais ampla; graças a ele as estantes estão - ainda - repletas de livros.
 
Hoje em dia, pratico exactamente a mesma linha de pensamento que tinha na altura. Só tenho em casa aquilo que realmente utilizo. Escusado será dizer que pouco ou nada subsistiu dessas preciosas prendas   ;-).
 
No entanto abro uma excepção à arte. Porque me oferece uma escapadela da realidade e me permite visitar épocas e lugares onde nunca estive e provavelmente nunca estarei.
 
Mas... (infelizmente esta palavrinha é usada demasiadas vezes), como não me posso dar ao luxo de admirar um Monet, um Dali ou uma bela escultura de Camille Claudel, rodeio-me de outras obras de arte, não de nomes sonantes, mas de assaz valor sentimental:
- aquelas que os pequenos me fazem e me oferecem com aquele carinho pegajoso.
 
E se os portugueses têm os seus famosos "enxovais", esta malta daqui também tem o seu quê de extravagante.
Uma delas é o uso (que é nulo) que fazem dos belos jardins da frente da casa, onde em quase todos os fins-de-semana de Primavera e Verão, se empenham morosamente a tornar a sua relva mais expessa e mais verde que a do vizinho (a isto chamam eles: keeping up with the Jones'); criam verdadeiras obras de arte floral e depois?
... depois, refugiam-se na parte de trás de casa!
 
Posso não ter a relva mais bonita da rua, mas gosto de usar e apreciar o que de momento possuo.
De modo que ainda nesta semana, quando um dos miúdos me pediu:
- Vamos fazer um piquenique no jardim?!
 
Nem hesitei em responder:
- Claro    :-)



Dá que pensar

Tinha acabado de meter a mercearia no carro, quando sou abordada por uma senhora de aspecto frágil, longos cabelos brancos atados num rabo de cavalo.
Proferiu certas palavras, as quais tive dificuldade em entender, de modo que lhe pedi que as repetisse por favor.

É algo que se vê cada vez mais nas ruas desta cidade.
Posso afirmar até que, na altura em que eu aqui cheguei, nunca se via um pedinte sequer!

Nunca tenho por hábito de lhes fazer a vontade (acontece mais quando estamos parados num sinal vermelho, numa determinada encruzilhada perto de um lar onde eles vivem), mas mediante tal criatura tão franzeninha, compadeci-me e, mesmo sabendo que não deveria ter dinheiro na carteira, olhei para me certificar.
Perante uma carteira vazia, lembrei-me então das compras... meti a mão na caixa das tangerinas e estendi-lhe umas quantas, de sorriso largo na boca.

Qual não foi o meu espanto perante a resposta dela, enquanto torcia e retorcia os lábios:

- I wish I could... but... I'm allergic to them!

Fiquei sem palavras!
O meu sorriso virou puro espanto.
___________________________________________

Obs: A razão pela qual não costumo dar dinheiro, deve-se ao facto deles receberem da segurança social, todos os meses, um cheque com um montante que faria erguer as sobrancelhas a muita gente noutros países; para além de que lhes é fornecido mantimentos, assim como um local para viverem.

Não seria melhor dar-lhes a possibilidade, por exemplo, de terem actividades onde se pudessem entreter em vez de lhes darem assim tanto dinheiro que esbanjam num abrir e fechar de olhos?

quarta-feira, julho 14, 2004

Fúria de viver

Eu sou assim, muitas vezes peco por não responder na altura.
Mas na verdade estava num daqueles dias em que só me apetecia ler, numa daquelas ocasiões em que acho que de nada vai adiantar a minha interferência.
Hoje arrependo-me de não o ter feito, por isso tenho que escrever a esse respeito.

Isto aconteceu por volta do rock in Rio (de Lisboa!). Já nem me recordo em que blog se passou.
Lembro sim que o indivíduo a quem o blog pertence não tinha conseguido ver um determinado grupo e queixava-se desse facto.
Ora num dos comentários lá deixados, li mais ou menos o seguinte:
- Não perdeste lá grande coisa. O tipo é bipolar.

!!!

Bem... a reacção desta pessoa fez-me lembrar os da Idade Média em relação aos infelizes afectados pela Lepra (os leprosos ficavam condenados a trazer uma sineta para avisarem da sua presença)!

É uma doença sim, mas não contagiosa e que requer de todos quanto os rodeiam a mais completa compreensão (e não só).
Não saberá esta pessoa, que nomes como:

Van Gogh
Mark Twain
Virginia Woolf
Lord Byron
Edgar Allan Poe
Michelangelo
Tenessee Williams
e Robert Schumann
(entre muitos outros)

... sofreram da Doença Bipolar?
Isto não se trata de uma coincidência.

Os cientistas acreditam que existe uma forte ligação entre criatividade e depressão maníaca.
Estudos recentes indicam que durante os episodios maníacos, as pessoas têm tendência a ter uma enorme saída criativa.

Fico gravemente chocada quando me deparo com atitudes tão retrógadas, quanto esta, em pleno século XXI.

terça-feira, julho 13, 2004

Bluesfest 2004

Se existe um processo capaz de conseguir unificar pessoas com os mais variados passados culturais, religiosos e até mesmo políticos; é um que tem por base a confluência de notas... notas musicais.

Reparo que sempre que existe umconcerto, as pessoas esquecem as suas mais profundas diferênças e, por umas horas, todos ali presentes pertencem ao mesmo fluido.

Este é um dos acontecimentos que aquecem esta cidade no curto verão que temos.

Tem vindo a crescer de ano para ano e a trazer ao palco grandes nomes da música.
Hoje foi o dia de

(deve ser nesta caixa que ele guarda a guitarra!)

Eu, como tenho que apertar os cordões à bolsa, não entrei para o recinto; no entanto não deixei de o ouvir.
Fiquei mesmo por detrás dos carros onde eles se preparam para actuar e até consegui tirar uma foto do ecrãn que lá havia (consegui vê-lo, mas por uma brecha muito fininha; foi-me impossível tirar-lhe uma foto directa).


Afinal... o que importa mesmo é o som.
E isso tive-o... de borla! ;-)

quinta-feira, julho 08, 2004

Hoje proponho um sonho

Eu comparo a Democracia (e todo o processo governamental que ela acarreta) à alcatifa.

É confortável.
Adapta-se bem às necessidades humanas.

No entanto, não nos apercebemos da comunidade de ácaros que ela vai acumulando, fora do nosso campo de visão e quão nefasta é a sua acção nas nossas vidas.

E se...
por instantes, por breves instantes, apagassemos da nossa mente milenar esta "invenção" grega e...
sem cair numa anarquia ou num completo caos,
sem fazer alardo à monarquia,
nem fazer propaganda ao comunismo,
nem tampouco promover ditadores,
mas tão simplesmente imaginarmos algo de DIFERENTE!

Bastaria para isso um povo uniformemente informado e educado para tal, educado para aberturas de espírito.

Quem sabe, talvez... talvez conseguíssemos esse novo modo de "estar".
Sim, sublinho ESTAR em oposição a governar.


(...e de sonhos vive o homem)

segunda-feira, julho 05, 2004

A ti

Que me ensinaste a escutar a lua.

Pudesse eu transferir para a imagem os sons que ela já me segredou.

Continuas Nubium.

sexta-feira, julho 02, 2004

1 Julho - dia de júbilo vermelho e branco

Presumo que todos os países tenham um dia nacional, onde se pretende clamar patriotismo em cada esquina de rua.
Pois bem, o dia 1 de Julho, é o dia deste.

Pela primeira vez que aqui estou, decidi fazer como tantos milhares: passar o dia na baixa, ouvir uns sons ao vivo e colmatar com o habitual fogo de artifício (este sim, costumo ver todos os anos).

Sinceramente, não consigo ter motivo de orgulho, nenhum patriotismo ao olhar esta bandeira desfraldar-se ao vento, nem o pescoço se arrepia ao ouvir o hino.
E olhando à minha volta reparo que me rodeiam indivíduos de pelo menos uma dezena de raças diferentes mas que têm entre si algo que os unifica: a mesma dupla nacionalidade.
Mas será possível haver patriotismo mútuo em tal diversidade cultural e racial com esta?

Eu só consigo ter respeito. Só isso.



De resto vejo este dia como uma oportunidade para os jovens de se embriagarem (e não só) e portarem de modo inconsequente e ordinário; dos vendedores se aproveitarem em dobrar os preços aos produtos e uma excelente oportunidade de se darem grandes caminhadas, como aquela que eu e os pequenotes fizemos!

Apesar de eu gostar muito das luzes do fogo; este ano o ponto alto da festa foi sem dúvida por volta das 15h quando muito de repente se levantou tamanho temporal com saraivada e tudo (!)que levou as pessoas a buscarem refúgio em qualquer buraco imaginável. Como este é um país de extremos climatéricos súbitos, em poucos minutos o belo sol que fazia transformou-se nisto:


Passado cerca de uma hora, já o sol abriu de novo fazendo com que as crianças se entusiasmassem nas enormes poças de água:


Visitamos pela primeira vez o tribunal supremo, onde os miúdos se sentaram ao colo de um dos juízes - estátua, claro :-) - (o David andava a correr atrás de uns balões, não ficou na foto):


No meio de tanto rebuliço ficamos sem conseguir ouvir alguns dos nomes famosos que por lá íam actuar, mas os diversos artistas de rua que por lá havia, deram o seu tom à festa, aquele espectáculo imprevisto que me sabe bem. como este contorcionista aqui, que conseguiu fazer passar o corpo por uma raquete!


E a noite aproximou-se... procuramos um bom local para ver o fogo... assim que nos sentamos na relva o pequenito do David adormece-me nos braços extenuado; daí que me foi impossível tirar umas fotos do fogo. Fica para o ano (talvez).

quarta-feira, junho 30, 2004

O passado sempre presente

Aqui há dias atrás, uma das meninas perguntou-me se eu tinha um computador quando era da idade dela.
Eu sorri e respondi-lhe que a primeira vez que eu vi um (só ver mesmo), tinha eu uns 19 anos!
(um daqueles bem pesadotes, tipo canhão da I Guerra Mundial)
Ela simplesmente pasmou ao ouvir a minha resposta. Algo que para eles é uma realidade tão tangível, outrora, e não há muito tempo atrás, era algo simplesmente impensável... objecto futurístico.

Como o modo de vida muda tão velozmente.

Nestes dias que correm, onde a cibernética ocupa um lugar primordial nas nossas vidas; onde os jogos (mesmo os educacionais) promovem a isolação; foi com uma alegre surpresa que fui abordada pela Verónica a pedir-me que lhe fizesse um certo joguinho em papel (que ela viu lá na escola).

Eu nem quis acreditar, mas era exactamente um daqueles que fizeram parte da minha juventude! Como as modas escolares ultrapassam fronteiras longínquas!

Sem saber muito bem como, lá meti mãos (ou melhor dizendo, dedos) à obra, com o instinto a ajudar, lá dobrei... e dobrei... e consegui, à primeira tentativa!

Ficou deslumbrada, a pequena!
A mãe ainda mais!!

O nome é que já não me lembro. Será que alguém se recorda disto? :-)




terça-feira, junho 29, 2004

segunda-feira, junho 28, 2004

Fomos ao Mc Donalds! Ficamos todos felizes!

Aliada da melhor das boas vontades e após alguma insistência por parte dos meus pequenotes, lá acedi ao apelo e fomos lá almoçar.

Não é a primeira vez que os levo a um local deste calibre, (variedade, por estes lados, é que não falta!) mas a este, ao líder dos antros de 'junk food', nunca os tinha levado.

Só após lá entrarmos é que me apercebi a razão pela qual eles lá queriam ir.
- Eu quero o azul...
- Não...! O vermelho é mais bonito...
- ...

Neopeds!!
O mais recente brinquedinho que é oferecido aos miúdos sempre que compram uma refeição (os brinquedos são tácticamente remodelados de tempos a tempos).

Tão entretidos estavam a escolher o dito cujo, que nem me ouviam a perguntar o que queriam comer; acabando por ser eu a escolher para cada um deles.

E eu agora pergunto:

* Desde quando,para comer, é necessário oferecer brincadeiras?
Não basta ter fome?!

* É nestas crianças de hoje, habituadas a serem subornadas por um brinquedo, que
depende o futuro da sociedade?
(isto já sem focar o assunto de obesidade infantil, que daria para mais um
assunto acalorado. Num espaço de 15 anos, o número de crianças obesas neste país, triplicou!!)

- Só como se me deres "tal"...

- Só estudo se me comprares um carro...

- Só trabalho se me deres uma promoção...

E a lista seria longa.
Ou estarei a ser demasiado pessimista?

Sempre lutei contra este modo de vida, demasiado facilitada, no entanto não quero que os meus filhos o vejam como fruto proíbido, daí que cedo de longe a longe; mas eu sei que eles se apercebem, por experiência própria, do valor negativo que isto acarreta.

E então o título...?
Todos felizes? Como?!

Ora nem mais.
Eles: porque lá levaram o seu trofeuzito.
Eu: porque me deparei, no final de almoçarmos, com uma mesa ainda com comida!

A não ser por algumas batatas fritas, eles não conseguiram comer nada.
Não há cozinha que faça frente a um Cozido à Portuguesa ou Bacalhau na brasa com pimentos assados a acompanhar!
Aliás, segundo os pequenos, eu sou a melhor 'chef' do mundo! (aham)
;-)

sexta-feira, junho 25, 2004

quarta-feira, junho 23, 2004

Decem - The Sacred Perfection



Não sei compôr, nem sequer sou crítica musical, mas sei quando alguém merece que a sua música seja ouvida por multidões.

Desde que o ouvi pela primeira vez, apercebi-me de que nem sempre é necessária a inclusão de lírica num som para que nos apercebamos da alma de uma melodia e a saibamos 'ler' e projectar na nossa mente toda a história contida por detrás daqueles sons.

Gostaria imenso de poder partilhar com vocês algumas delas, mas como ainda não descobri como se coloca a música aqui no blog :-p, podem ouvir pequenos excertos do albúm do Vau nesta página, onde diz 'Track Listings'.

Um beijo para ti João :-)
Que um dia possamos apreciar juntos, ao vivo, a beleza do Cabo Fisterra e a rir vamos imaginar quantos nos estarão naquele momento a ver, ali de pé ao lado do farol. (lol)

terça-feira, junho 22, 2004

Intense concentration

... era o sub-título da foto que me apanhou deveras de surpresa!

Foi-me impossível formular qualquer palavra ao admirar cada contorno do seu rosto ali escarrapachado no jornal... só fui capaz de... sorrir!
Aquele rosto a quem eu um dia, há 7 anos e pico, olhei bem de perto, por entre a escuridão dum quarto de hospital... ainda com poucas horas de vida... e lhe segredei bem baixinho, um segredo que agora fica também entre tu que me lês e eu:
- Havemos de ser a melhor amiga uma da outra!

Por incrível que pareça, 13 mêses mais tarde, estaria eu a repetir estas mesmas palavras, neste mesmo quarto (!).

Espero que um dia elas leiam estas palavras.

segunda-feira, junho 21, 2004

Tronco de Pessoa

Não é para comemorar o dia do seu nascimento (que por casualidade foi há bem poucos dias)... nada disso.
Só porque adoro ler este homem.
Só porque este poema me veio parar às mãos agora mesmo.

Espero que se possa ler... ali colado numa das minhas mais recentes avarias.


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Para uma melhor leitura, é só aceder a esta página



sábado, junho 19, 2004

"Pelas suas impossibilidades absolutas..."

Queres...
falar um pouco mais sobre isto?

sexta-feira, junho 18, 2004

"Quem quer filhos, que tome conta deles"

Esta era uma das frases que eu mais ouvia em pequena.
É de conhecimento comum que a sabedoria popular costuma ser muito acertada e realmente eu concordo plenamente com esta aqui.
Mas talvez nem aquelas pessoas a quem eu ouvia dizer isto, soubessem o quanto esta frase tem de valor.

Bem depressa se chegaram ao fim sete semanas de 'baby-sitting' temporário... é assustador o modo como nos apercebemos do tempo passar.

Esta oportunidade também me deu para certificar do valor negativo em enviar os filhos antes dos 5 anos, para uma ama, infantário ou algo do género.

Pela minha parte, essas instituições deixariam de existir para crianças daquela faixa etária.

Tudo o que elas vêm, sentem e lhes é transmitido até aos 5, fica permanentemente gravado nelas.
Acima de tudo, numa criança 'de infantário', fica a falta de um beijo dado pela mãe - ou pai - no momento menos esperado; a falta daquele abraço terno que se dá como conforto após uma queda; um simples olhar que se cruza com o deles e que resulta no mais doce dos sorrisos... e o cheiro da presença familiar.
É isto tudo e muito mais que lhes faltará por todo o resto das suas vidas.
E não me digam que sim, que existem amas boas e carinhosas... claro que sim.
Mas não é delas que os filhos precisam nesta dada altura e não haverá regresso ao passado para recompôr erros.