Era meio-dia.
Num dia qualquer desta semana.
Esperavamos o autocarro da escola para o Daniel.
Com as miúdas já na escola desde manhã cedo, a minha atenção diminui para metade, de modo que me delicio com certos prazeres - habitualmente remetidos a segundo plano - como aquele com que me entretinha no momento: o envolvente abraço solarengo de Setembro que se findará num piscar de olhos.
Não me dei conta de como se levantou, nem qual dos dois induziu a esta acalorada 'discussão'.
Quando aterrei (no mesmo plano audível que eles), foi a partir daqui que os apanhei:
Daniel diz: “No! The front of the road is nowhere!!”
David responde: “No… you’re wrong! IT is everywhere…”
Viram-se então os dois para mim, após uns largos minutos de exuberante discussão madura entre dois miúdos de cinco e três, respectivamente.
Os dois: “Mããã… where is the front of the road??”
Esta pergunta dos miúdos transportou-me de novo à minha infância.
Fazemos continuamente comparações de viveres, de acções...
Quantas vezes me lembro eu de ter presenciado conversas em criança, entre adultos e mais jovens e perante a curiosidade, sempre no pico, da criança, a maioria das respostas que essa mesma tinha eram:
- "olha... olha! Mas que palerma! Isso é pergunta que se faça?"
- "... ui! ... que tristeza! Não tens mais que fazer do que fazer perguntas parvas?"
E por aí fora.
O que não faltava era desse tipo de exemplos.
Perante reacções deste género, como pode uma criança tornar-se forte no saber e continuar a querer descobrir para além do que os seus olhitos vêem?
Porque será que temos todo um potencial de querer sabermos mais, mas que tem tendência a sumir com o decorrer dos anos?
5 comentários:
Hi overflowing creek !
É verdade. Sou eu novamente. E desta vez não vais poder aldrabar a ordem das tuas respostas. Ou podes. Mas, não sem que pareça intencional.Apanhei-te bem apanhadinha!
Normalmente não responderia ao teu post, porque entras em considerações demasiadamente filosóficas para uma Bina de campo(1). E depois tens andado rabujenta(2). Mas olha, o Zé no caminho de casa achou dois bilhetes e levou-me ao cinema a ver um filme estranjeiro. Nem preciso de dizer que ele dormiu o tempo todo. Eu não. Sentí-me uma princesa no meio do veludo vermelho das poltronas, dos torneados elabordos do mogno escuro entalhado. Estava encantada... Agora perdi-me.. Ah! The Big Fish, assim se chamava. Indubitavelmente um Tim Burton. Pura magia na forma mais inocente e naíf. Sempre tive uma coisa especial com peixes. Mas bom, era sobre um pai e era sobre um filho e era sobretudo sobre um pai e o seu filho e sobre a magia com que devemos colorir o mundo. E daí que estou mais virada para uma tentativa de exegese do que para depenar galinhas(3).
Pera, antes de continuar, tu mudaste de curvas para rectas? È para me trocar as voltas??
Bom, mas voltando ao tema e sem deixar as rectas, porque de seguementos delas se vai tratar, é pertinente a pergunta do teu garoto. E original na forma de encarar a problemática estradal. Sempre ouvi dizer «the end of the road» por vezes com «charlie» no fim, intervalado por uma vírgula. E na verdade é o miudo que tem razão. A magia está no início do caminho, e em caminhar. Quem quer saber do fim da estrada. The long and winding road que o Lennon escreveu e o Paul cantou?
A piada consiste em curvar, acelerar,desrespeitar um sinal de quando em vez, ultrapassar subidas íngremes e gozar as descidas perdidamente.Deslizar. Deslizar.
Peraí.. eh rapariga.. Daniel? David? As miúdas? Criadeira tu !! humm parece-me bem que também gostas de escorregar e deslizar.
Nowhere? Everywhere? Cada ponto do segmento de recta é um início. Everywhere portanto. Mas por isso mesmo nowhere. Omnipresente. Porque neste nosso mundo as rectas curvam, curvam, até se juntarem em circulos que são as nossas vidas. Fazemos e colhemos. Confrontamo-nos sempre com o que fomos. Com sorte, os círculos encontram-se e encadeam-se, elo após elo, e fica cá algo de nós.
Fado Curvo, cantava a Marisa. Sim, mas somos nós que o curvamos.
Porra, tenho deixar de ver filmes que fico mole.
JinhusJinhusJinhus
Bina
*1- Juro que num é nenhum trocadilho subtil com galinhas
*2- e não só tu !
*3- Juro que não.....
Ps - Duas cachopas tmb? Por isso imigraste.
Xiiii!... eu vinha comentar, mas juro que já não sei o que ia dizer. Oh, Bina!... olha!... Porra!... nã sei que diga a nenhuma das duas. Cada vez gosto mais de vocês as duas. A Riacho com uma "visão" fascinante (as mães apanham mesmo tudo, eheh). Tu, Bina... uma verdadeira caixinha de surpresas. Beijinhis às duas. Um a mais para a Riacho, que afinal, é a dona da casa.
Penso que o potencial de querer saber mais não tem tendência a sumir com o decorrer dos anos... O que acontece é que passamos a ter menos tempo para certas coisas importantes, focalizamo-nos muitas vezes naquilo que não interessa e, no limite dos limites, somos esmagados por uma sociedade que - não raramente - não está muito interessada em que aprendamos mais e sempre.
Olá Bina!
(ou será Bino?)
Não vou tecer tamanha refutação ao teu comentário, só gostava de corrigir-te num certo ponto e fulminar outros dois.
Não, eu não Imigrei porque tenho duas "cachopas"; eu Emigrei por outros motivos e tenho-te a agradecer por me teres relembrado (indirectamente) um deles.
Voltanto à natureza desta personagem "Bina", devo-te confessar algo:
- assim que te li pela primeira vez, vieram-me à ideia as diversas figuras televisivas que Herman José muito habilmente criou; e porque só um homem teria a sensibilidade de fazer uma caricatura quase tão perfeita (quanto o Herman) de uma mulher do campo, com as galinhas atrás, beliscões no rabo, sempre com uma travessa cheia de bons lambaretes... e por aí fora.
E olha que quem me conhece te dirá que o que acabei de te dizer se trata de um elogio. O Herman foi e, apesar da distância ainda é, um propulsor dos meus variados estados de humor.
No entanto, ainda tens umas arestas a alimar, adquirir um pouco mais de consistência, para que te possas igualar a ele.
Afinal nos tais 3 J's não lhes vislumbro qualquer estilização como me tinhas informado!
Tão somente uma forma hipocritamente concisa de desbaratar emoções.
Com isto, termino.
Não estranhes que esta seja a minha última vez que que me dirigo exclusivamente para ti... eu cá estou mais virada a criar gansos.
Um bom dia para ti.
_______________
Olá Anónimo,
Gostei bastante de ler o que pensas sobre isto.
Não usei um bom termo de descrição ao problema.
Na verdade o que me preocupa é essa tal selecção, como tu o dizes, focalizada em material menos importante e como agravante ter uma sociedade que não queira que se abram os olhos.
Porque é que isso acontece?
A longo prazo só se poderá obter (se seguirmos estes parâmetros) uma sociedade de zombies.
Fica bem :-)
Olá Riacho,
Vamos lá então a isto, embora com o atraso ditado pelos meus afazeres, mas a porca pariu e estive sem tempo para nada. Sim, teve 11 leitõezinhos, obrigada por perguntares.
Em primeiro lugar, como sou uma Bina educada, compete-me pedir-te desculpa porque, quer-me parecer, ofendi-te de alguma forma ou, pelo menos, feri a tua sensibilidade. Em segundo lugar, porque volto a invadir o teu espaço, que julguei ser de livre acesso e acreditei ser de livre expressão, pautado embora, pelas regras superiores das boas maneiras. Mas como não consigo ficar com as coisas por dizer, nem para o bem, nem para o mal, estou aqui.
Reli o que escrevi, e só vislumbro uma passagem que, mal interpretada, possa ter podido pôr-te tão mal disposta, para não dizer irascível. Especialmente para com alguém que te apareceu apenas 2 vezes no blog e que simplesmente te deveria ser indiferente a ponto de nem sequer merecer troco.
Refiro-me claro à passagem em que brinco com o facto de teres 4 filhos. Reagimos sempre mal quando nos tocam nos filhos. A tentativa de graça, com o trinómio filhos/despesas/emigração caiu-te mal. Ou porque não percebeste, ou porque percebeste que desdenhava da tua condição de emigrante. É claro que eu inclino-me para as duas hipóteses em simultâneo. O facto de eu ter tocado na emigração , tirou-te o discernimento e o bom senso. Dái o teu comentário «(...) eu Emigrei por outros motivos e tenho-te a agradecer por me teres relembrado (indirectamente) um deles». Lembrei-te que Portugal, tem pessoas como eu ? Que aqui em Portugal somos (os da minha laia , claro) ignóbeis e atrasados?. Certamente inferiores na condição de pessoas e forma de pensar do que os habitantes de muitos países, e definitivamente piores do que as pessoas do Canada, local para onde se deslocam os bem aventurados?
Olha, Riacho, o que eu penso das pessoas que emigram, é que procuram melhores condições de vida e de desenvolvimento pessoal e profissional, para si próprios e para os filhos. Apenas lhes aponto, como aponto a ti, alguma cristalização nas ideias que fazem do país que deixaram. Mas é natural.
Agora, quanto àquilo que escrevi e que tu «fulminaste» , devo-te dizer que fiquei bem contente de tudo isto ser virtual, e de não me poder acontecer o mesmo que ao Iraque.
Herman José. Cristalizaste também. O pouco que diz com piada resulta das Produções Fictícias. Dele, infelizmente, retiro muitas coisas com mau gosto. Como, aliás, tu de mim. Além disso, avalio as pessoas pela sua conduta, pelo que, como se diz aqui na aldeia, gado que não faz bom estrume, fora do curral.
Por isso nunca o imitaria, nem nunca me passou pela cabeça alguém me comparar a ele. Monty Pyton, Black Adder. Esses sim seriam objectivos orientadores, a querer eu, imitar alguem.
Também não percebi a parte dos homens terem mais sensibilidade do que as mulheres. Nem o Bino. Nem sequer a importância de ser Bino ou Bina. O dito é que é o importante, ou o desimportante. O «não dito» também é importante, mas percebê-lo, depende da sensibilidade de cada um. E a sensibilidade, parece-me Riacho, é alheio ao sexo e inerente à personalidade.
Desbaratar emoções? Com JJJ ? eheheh Caramba! Eu apenas consigo descortinar um cumprimento alegre e descomprometido. Despromovido de emoção? Que emoção? Não é beijo de mãe. Não é beijo de amor. Não é, tão pouco, beijo de amizade (a ordem destes beijos não é aleatória). É um jinho, um simples J, ligeiro , simpático, descomprometido e inconsequente. Beijos, dou a quem conheço e com quem me relaciono. Distribuo-os com parcimónia.
Para terminar, que sei que te maço, quando comento aqui ou nos blogs das tuas amigas e em outros que não frequentas, não o faço dirigido a ti ou aos autores dos blogs em especial. Faço–o para quem aparecer. Porque de blogoesfera se trata. Por isso nunca pedi que te dirigisses a mim. Não cobres o que eu não te pedi.
Quantos aos gansos, dão uma pasta de fígado porreia, mas eu cá continuo a preferir frangos.
Um bom dia para ti também
Bina
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