quarta-feira, junho 29, 2005

Lentes de Contacto - XI



No one can hear me, ’cause no one is around
But I still hear your whisper in the dark
I know I can go, I know I can leave whenever I please
But time is a jailer for me
(...)
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I shut out the light
Alone in the dark
This time of night
Is the hardest part
(...)

Time is a jailer - Anouk

Ao sabor da roda




Tomei aquela que fica a Sul, virei na direcção Oeste e regressei pela que fica a Norte, desta vez com rumo a Este.
Com alguns pequenos ziguezagues pelo meio, perfiz um grande "U" de hora e meia a pedalar. Com o objectivo alcançado, o rio, saborei o ar da noite mais agradavelmente fresco daquelas paragens, o cantar dos patos bravos entrecortado pelo de alguns cisnes, que fazem das margens a sua moradia.

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Ponte sobre o Rio Rideau @ Montreal Rd



Nota em suspensão permanente:
Ainda não consegui que alguém me desse uma explicação lógica, porque razão todos os edifícios governamentais, todos sem excepção, mantêm as luzes acesas durante toda a noite.
E não. Ninguém trabalha todas essas horas extras.
É algo que me causa espanto há já quase dezassete anos.

segunda-feira, junho 27, 2005

Mega Notícias



Teria eu ouvido 'west coast' e percebido 'east'?
É possível.
Mas também o é que tenha percebido perfeitamente bem.
E se assim o é, fico a magicar como podem ter feito assim um salto tão enorme, após terem traçado profecias sobre algo por vagos segundos, sem sequer aprofundarem as razões porque o fizeram.
Eu compreendo que a necessidade de atrair massas seja, possivelmente, ainda maior que a atracção que existe entre macho e fêmea - e nos dias que correm, nem só entre estes dois espécimes - mas há que manter uma certa coerência nos factos que se apresentam.
Nem tampouco ouvi mencionarem terramoto algum.

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Lituya Bay - Alaska



Nota: Mega tsunami de ondas gigantescas que atingiram a elevação máxima de 516 m na Baía de Lituya no Alaska, a 9 de Julho, 1958.

sábado, junho 25, 2005

Ranunculus



Foi naquele sábado que me decidi a ir. Já me andava a prometer aquele encontro há bastante tempo, e numa inesperada onda de euforia, qual adolescente antecipando o seu primeiro encontro, larguei mão de todas as tarefas a cumprir - umas 2, 3 horas, não fariam diferença, pensei.
A verdade é que já o namorava, à distância, há uma data de tempo. Fiquei-me por uma eternidade, naquela relação platónica, a do olhar, a do voltear a cabeça e pensar "quando...?".
Aquelas horas que se iriam seguir, seriam só minhas e dele; de mais ninguém.

Foi um dos primeiros a ser construído, aí por volta de 1949, na cidade do pós-guerra, com aquele glamour ainda visível nas fotografias espalhadas um pouco pelas paredes. Ainda conserva, e ainda bem, bastante da sua originalidade, não se aliando aos avanços da tecnologia: nada de cartões de crédito ou de débito, só a pronto pagamento.
Estaciona-se na rua, onda calha, sem direito a um actual costumeiro mega-estacionamento, práticos, sem dúvida, mas enfadonhos, monótonos até dizer chega, como quem estaciona o gado para a matança.
O cheiro a mofo, a antigo, impera no local e para o toque final assim que assentamos o olhar no todo da sala, deparamos com aquela portentosa cortina vermelha (sim, de tecido e não plástico!).

Só as pipocas me desiludiram.
Não que estivessem rançosas ou fossem moles, simplesmente porque nem deveriam de lá existir. Nunca compreendi como é possível alguém gostar de assistir a uma sessão e metralhar os dentes ao mesmo tempo créc, créc, créc, créc!
É como fazer amor e crochet ao mesmo tempo; nem se aprecia um, nem o outro, em todo o seu esplendor.

"The Ballad of Jack and Rose" foi o escolhido.
Era o último dia de exibição, de modo que me presenteou com um bom número de cadeiras vagas à escolha, e por conseguinte, muito poucos disparos pipoqueiros.
Foi muito bom rever Day Lewis. Mais maduro que naquela época, mas a sua postura muito própria, continua a crescer pela positiva.
Ele é, para mim, sinónimo de uma viagem de comboio, dum encontro à entrada num qualquer cinema do Porto, de Kundera, do entrelaçar de mãos, da pele morena sob o vestido de aldogão amarelo, do cheiro a maresia com o conversar sobre o filme entrecortado de beijos dados sem promessa alguma...

Daqui a uns idênticos 17 anos, os mesmos que me distanciam desse Lewis, serão outras as lembranças, muito diferentes, é certo, nas quais predomino eu como personagem principal. Acho sempre triste sair do cinema sem ter com quem trocar impressões vivas do momento ainda quente, mas foi uma experiência fantástica ter ficado na incógnita, e invisível ao mundo que me rodeou enquanto o filme rodou.
Há que repetir a façanha e de preferência no horário nobre: o da noite.

sexta-feira, junho 24, 2005



Acabei de medir o pó acumulado em cima do monitor:
2 milímetros.

Só aos 5 é que o limpo. Dá mais gosto.

Lentes de Contacto - X



Quando os sonhos se vão
as lágrimas tomam o seu lugar,
fertilizam solo
para uma nova vaga de sonhos,
mais maduros,
mais tangíveis,
mais reais.


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terça-feira, junho 21, 2005

Pedido bizarro



Era uma sala cheia de gente, que poderia ser um café, uma classe, uma festa, um amontoado de sons. Ouve-se um toque, repete-se, remexem-se mil bolsos e, mesmo sabendo que não era o seu, todos o abrem e encostam ao ouvido. De volta ao bolso com um ar desiludido, aquelas mil caixas de fósforos.
Há um braço que se estica no ar, um rosto que se assemelha ao da minha mãe e me diz "É a tua mãe".
Fico confusa.
"Sim?"
Afinal a ligação era uma tele-conferência(*) a três menos um, pois a voz da minha mãe nunca a cheguei a ouvir. Só a dele. Tão nítida como nunca a tinha ouvido sob tal estado. "Escuta", ou teria sido "Ouve", não importa agora; o pedido sim, esse é que me deixou ainda mais perplexa. "Quero que me pintes um biombo", pasmada, cada vez mais pasmada, "pintado como aquele quarto..." (qual quarto, penso agora eu?), "sim, aquele de que já falamos".
E eu que sim, que me lembrava perfeitamente.
Naquele instante a memória é mais elástica que nunca, lembra-se de todo o pormenor, passado ou futuro.
Aponto medidas, esboço traçejados e nisto sinto a voz que se vai.
Chamo por ele mesmo sabendo que já não me ouve, mas estranhamente, o nome que sai não é o dele. É o do irmão.
Regressa o barulho que até então se tinha espantosamente esfumado. Olhos que se apontam para mim.

Sobressaltada, vejo a custo as horas, quase oito, estou atrasada. Os pés de chumbo arrastam-me os ossos doridos e músculos fatigados.
É sempre assim que me sinto após uma noite fértil.


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(*) palavra inventada por necessidade fantasiosa.

sábado, junho 11, 2005

mea petra e non culpa



Ao todo são doze.
Aí pelo quinto, sexto já se começa a sentir o frescor, o enlace húmido nos dedos, nos tornozelos, nos joelhos...
Ah! Pedras, benditas pedras.
Como vos amo.

quinta-feira, junho 09, 2005

Sombras na parede




Era deste modo que os adormecia.
Cabiamos todos juntos, à mão cheia na mesma cama, os cinco bem à larga, tal era o tamanho aconchegante dos seus corpos. Criou-se uma rotina suave, melodiosa que incitava o cair pesado das pálpebras.
Bryan Ferry soava na minha mente e eu ressoava o som para eles, ali no quarto.

Take the ribbon from your hair
Shake it loose and let it fall,
Lay it soft against your skin
Like the shadows on the wall
Come and lay down by my side
Till the early morning light.
All I'm taking is your time
Help me make it through the night


Com o passar do tempo a rotina mudou, e esse som desapareceu aos poucos, dando lugar a outras rotinas mais próprias ao avançar da idade deles.
Ontem relembrei-me desses minutos ao fim do dia e o som saiu de novo.
Mas o David...


- Mã, please. Stop singing. My eyes are wet...

quarta-feira, junho 08, 2005

Convergere



Entre pesquisas googlianas que cá deram à costa e os meus pensamentos-bolha, convergiu esta minha ideia de comemorar este dia.
6, 7, 9 ou 10.
De pouca importância se reveste ser um dia preciso. O essencial são as memórias que abrangem esta data.
O que, ou quem, pretendo homenagear, paira-me à volta revestido de uma certeza indecisa.
O que sei ao certo é que este dia, e os que o circundam, me são por demais importantes, pois gravaram em mim lições inesquecíveis, as quais levarei encadeadas a todas as outras pelos meus dias adentro.

Assim como nascem, assim se vão, as flores que desabrocham no jardim. Intactas.
Saboreio-as com o olhar, deixo que vivam os seus dias sempre presas à terra que lhes dá força e aprendo com elas, o que cada uma tem a ensinar.
No fundo esta dedicação vai para as flores com que me tenho cruzado na vida; aos acasos fortuitos, inesperados e inesquecíveis que esta vida me tem presenteado.

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segunda-feira, junho 06, 2005

SadMan



Costumava fazê-lo nas sombras com que se revestiam as paredes, no picotado do cimento em qualquer superfície, nos azulejos onde fixava o olhar, nos nós e tracejados da madeira, mas nunca nas nuvens.

Até hoje.

Foi uma questão de segundos somente, mas bastou para que o visse.
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Show me the world, SadMan.

domingo, junho 05, 2005

Procurando o arco-íris



Chega sempre assim.
Tão súbito como a sua partida.
Traz sempre consigo temperaturas escaldantes e húmidas, trovoadas repentinas com chuvadas entremeadas, e o chorar das gaivotas pela falta da maresia.
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Never a dull moment!

quinta-feira, junho 02, 2005

Ecos



Á medida que a temperatura descia pela noite dentro, e o bafo de ar se tornava visível, o cheiro da caruma a queimar ao relento e o seu distinto crepitar que lança pirilampos pela noite fora, emergiam, da escuridão da memória, em proporção inversa à descida, certas passagens antigas "Quantas camisolas trazes hoje?", "Quatro!", "Ah... eu tenho cinco!!... e meias?".
E a geada pelas manhãs no vale do Ave.


Ecos desaparecidos de um tempo, reunidos no baralho de âmbito alheio.
Memórias em que os olhos se estendiam na passadeira do futuro, encontraram-se ali, neste tempo onde os olhos se voltam para a escadaria do passado.
Em quase nada se relacionam senão pelo ser comum.
Misturas num (e de um) caldeirão que, ora aquece, ora arrefece.

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Bon Echo