A ampulheta descansa nos meandros do tempo.
Parar o tempo: um desejo do mortal quando se esquece da sua qualidade de deus.
Dedicado a alguém com muito poucas dificuldades de comunicação, neste dia 9, Janeiro.
A ampulheta descansa nos meandros do tempo.
Parar o tempo: um desejo do mortal quando se esquece da sua qualidade de deus.
Dedicado a alguém com muito poucas dificuldades de comunicação, neste dia 9, Janeiro.
Disse-me ele que, quando lá voltasse, não perdesse o rodovalho. O que ele não sabia é que eu já lá fui musa piscatória.
Nem dois minutos o isco esteve na água, e cá veio ele...
Cabo Carvoeiro, 2006
Não deve ser rodovalho, mas...
Não vejo qual é o prazer que têm certas pessoas em vestir roupa completamente encharcada com cheiro a naftalina, principalmente quando, nos dias que correm, a maior parte das etiquetas reza poliéster.
Mas mais grave ainda é quando essa mesma roupa encharcada serviu para acolchoar caixas de broínhas numa viagem transatlântica.
Isso, sim, ultrapassa o ridículo da primeira cena.
Arrghhh! Que sabor horrível...
Já o conheço há quase quarenta anos e desde sempre lhe vislumbro o balão de diálogo invadido por essa palavra, entremeada a cada dois segundos por outras tidas como normais. Foi vizinho(*) dos meus pais, o dum suposto rés-do-chão, é-o agora só da minha mãe. Destinos de quem parte cedo.
Aquele modo de a pronunciar, prolongando a segunda sílaba, ou melhor, o segundo 'á', embeleza-lhe a conversa, obriga-nos a um sorriso desenfreado mesmo que não se compreenda metade do que nos tenta dizer. Acho-o castiço, próprio do ser daquelas redondezas; tal como uma certa casta pertence a uma determinada região, assim se encaixa ele na palavra e por seu lado na terra, ou o contrário, isso é secundário. Só este detalhe já mostra o quão genuíno é o conjunto.
Na mesma onda, mas para contrariar a corrente--a minha corrente--tenho dado de cara com inúmeros indivíduos--curiosamente só me consigo lembrar que sejam do sexo feminino--que optaram por importar tal esquema lusófono nas suas conversações. O resultado é todavia sem piada, insosso, desprovido de carácter robusto, uma encosta para esquiar de inclinação 1%. Enfim, um dilúvio de pregos numa festa de balões.
Onde já se viu pensar que a anglofonia like algum dia superaria a lusa caralho que ainda hoje sai a rodos da boca do senhor Abílio.
Nunca!
* - Convém talvez mencionar que se trata de um homem nortenho. Do meu Norte.
O ar que se respira, dentro
As caras que se cruzam, doentias
Mascam, mascam, mascam
os segundos à vida
Mascaram essa vida com sabores simulados
em laboratório de química
Exalam o fedor de dias vazios
cobertores de mofo agasalham-lhes
os Invernos sucessivos
São só Invernos.
O sorriso não faz parte do teu vocabulário. Os pesos que carregas em cada ponta dos lábios proferem-te essa arrogância permanente no olhar. Quanto cansaço, quanta opressão...
Calca e recalca-te a emoção nesse coração onde o eco parece dizer preeeeenche-meeee.
O amor. Lembras-te ainda como se faz? Como se consegue ser TÃO feliz ao se esvaziar completamente nesse dar amor. Saberás isso?
Tem sido má a vida para contigo, ou terás sido tu má para com ela?