quarta-feira, setembro 15, 2004

Um desabafo (por falta de melhor título)

Não tenho por hábito reger-me por generalizações, mas devo admitir que nos são úteis e servem como fio-de-prumo na descrição de povos, por exemplo.

E depois, claro, há deviações a esse fio, como em todos os parâmetros que nos guiam.
O ideal seria que o geral se desse sempre pela positiva (o que nem sempre é o caso), que as excepções do negativismo formassem, essas sim, o geral.
Uma utopia, isso sim!

Tomemos o caso da imagem geralmente feita aos portugueses.

Há vários caracteres que nos generalizam (concordam, não?), mas aos meus olhos existem dois que sobressaiem dos demais:
- A hospitalidade;
- A vaidade.

Será que existe correlação entre as duas?
Se não fossemos tão hospitaleiros, tornar-nos-íamos (isto estará bem escrito?) menos vaidosos?

Eu gostava de focar aqui esta última, a vaidade.
Quanto a mim, uma vaidade exacerbada.
Uma vaidade que me marcou desde tenra idade, pela negativa.

Compreendo que se goste de vestir bem... perfumar-se da cabeça aos pés (...cuidado com as alergias!)... ter que sair por 5 minutos para comprar pão e passar meia-hora a "arranjar-se"... deslizar pela nave da igreja a nova fatiota (que por azar é igual à da vizinha!! @#$@%&)...
Eu compreendo isto tudo (embora não pratique nem aceite), mas quando esta vaidade escapa da aparência física que nos envolve e atinge o corpo físico em si... isso doi!

Houveram frases que ficaram marcadas na minha memória e afectaram mesmo a minha personalidade.
Frases segredadas por entre as mãos que se queriam fazer ouvir.
Olhando de lado o "objecto" dessas afirmações peremptórias.
Frases e olhares que me queimaram, como quem queima o gado com ferro em brasa.
De tal forma que desde que entrei no 1o ano até ao 12o (ou seja, toda uma adolescência), nunca usei saia!

Com certeza outra pessoa teria agido de outra maneira.
Se calhar só eu me escondi desta forma... porque sou fraca (aliás, fui mais fraca). Demasiado sensível para fazer ouvidos de mercador.

O que me põe a pensar em outros alvos que existem, casos ainda mais graves em termos de diferênça física.
Quantos e quantos não haverão por essas ruas fora a serem "vaidosamente analisados" por quem possui as "medidas certas"!

Portugal é uma sociedade que segrega. Isola. Atraso desolador de mentalidade.

As excepções existem, como já acima referi, eu sei... só é de lamentar que esses não componham um todo mais aceitável, mais justo.

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Como complemento de informação (e não é que o seja obrigada a fazer; é mais uma necessidade muito minha), acrescento que a minha diferênça física deve-se ao facto de ter sido atingida por Polio, tinha eu uns 5 mêses de idade.
Após algumas intervenções cirurgicas, feitas já tardiamente (assim era a medicina nessa altura) na minha adolescência, permaneci com uma ligeira desigualdade nos membros inferiores.
Nunca me impediu de andar, saltar ou correr como uma doida que (ainda) sou; mas que raio... também nunca pude entrar numa sapataria, comprar qualquer tipo de sapato e sair com eles nos pés.

Mas que vaidade a minha!

1 comentário:

inconformada disse...

Soube-te bem este "desabafo"... Sinto que soube :-)
Beijo