terça-feira, abril 12, 2016

Quando chegaste

Quando chegaste, eu parti.

Parti porque o meu amor por ti não se mede com presenças banais.

Acredita, não foi uma escolha fácil, o meu partir. Aliás, pensando bem, nem tampouco difícil o foi. Foi tão simplesmente o curso que a minha vida - a nossa vida - teve de tomar a partir daquele dia. Um dia gélido, mas de um brilho mordaz, do mês de Março, de um ano que provou ser, inquestionavelmente, esmagador.

Naquele dia partiram também todos os fantasmas noturnos acumulados na fileira dos meus dias. Nunca saberás a leveza que me passaste a proporcionar.
Creio fortemente que há alturas na vida em que não temos escolha a tomar. Chamo a isso: seleção natural.
Sao como que escolhas personificadas. São tão palpáveis, e independentes de nós, que têm vida própria, e, são elas que nos gerem. Não o oposto.

Quando chegaste, trouxeste contigo toda uma trouxa de incógnitas, de perguntas para as quais, até àquela data, eu nunca senti necessidade de encontrar resposta.
Quão ignorante me senti!
No entanto, e sem que uma única palavra fosse proferida entre nós, aquele teu primeiro sorriso, só meu, garantiu-me a segurança que eu precisava sentir.

O tempo tem galgado feroz desde que parti - uma verdadeira montanha russa, de miríades de emoções, com os seus devidos altos e baixos, sempre prontamente transpostos, com os pés nem sempre bem assentes no chão, mas nunca sem perdermos o ponto de convergência.

Contudo, vai chegando, silencioso, aquele ardor contra o qual nada podemos, em que só ele ordena, e sinto-me na hora de regressar para que tu possas partir.

Quando chegaste, minha filha, deste-me à luz.


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