Foi a altura certa para procurar o vento e desafiar a gravidade.
A secura dos seus dias arrastava-a, vagarosa, pelas colinas da sua vida. Os grilhões multiplicavam o seu peso, desmesuradamente, em cada monotonia sentida. Já não subia, nem descia. Não avançava. O peso dos dias enterrava-a em mil nadas. E esse sufoco de enfrentar tais vazios, paralisara-lhe a mente.
Deixou-se levar ao sabor de uma vida sem vento. Insossa. Insípida.
É certo que não havia tempestades, nem intempéries que provocassem o caos. Mas sem o caos não se sentia renovada; reconstruída.
Faltava-lhe o sal trazido pelas gotas do vento.
Esse vento que outrora lhe fustigava o rosto, e a mantinha desperta.
Esse vento que exigia dela sempre mais do que ela própria sabia poder dar.
Foi neste crescendo de penúria que a altura certa chegou.
Bateu-lhe, ao de leve, nas costas. Olhou à direita, nada. À esquerda, igualmente vazio.
Continuava a sentir aquele toque insistente que a desafia à descoberta, mas a visão é limitada e nada apura.
Lembra-se então das amarras que a mantinham tolhida — após tanto tempo escrava delas, já as sentia como fazendo parte de si.
De resolução afiada, e em punho, amputa as correntes do seu desassossego.
Gira em torno de si mesma e dá de caras com o vento, de olhos impacientes, e corpo agitado. De vozeirão descarado, provoca-a “VAMOS À VIDA!”
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