terça-feira, abril 12, 2016
“O destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha recta.”
Virado de costas para a sala, o professor Leite provoca os alunos à reflexão.
“Setor! Eu!”, Zé Valente levanta a mão. Frenético.
“Vá, ilumine-nos!”, o professor antevê o cenário em que se vai transformar a sala de aulas.
“Pois então… tá-se mesmo a ver. Cá p’ra mim, o man compara o destino ao corpo das mulheres: cheiinho de curvas!”, continua matreiro “Um gajo só se perde nesses caminhos!”
É a chalaça instalada.
Outra mão no ar.
“Sim, Armanda. Faça o obséquio. Tire-nos deste torpor inebriante. Leve-nos consigo para outra dimensão desta problemática.”
Por entre risadas que vão diminuindo de intensidade, Armanda, desenvolve, “. . . como se está a ver, o autor dá-nos indícios que o destino não é um percurso que esteja previamente traçado, de princípio e fim perfeitamente visíveis. Pelo meio há cortes de estrada, há desvios forçados a acontecer, há quedas de altitude, há subidas vertiginosas. Há toda uma panóplia de adversidades.
[Ouve-se o toque irritante duma campainha que anuncia o fim da aula]
Por entre o arrastar de cadeiras e vozes expectantes do final de dia, o prof. Leite adia a discussão para a próxima aula, “Quero também que me escrevam um pequeno parágrafo sobre a ‘felicidade’.”
Com a saída do último jovem, a sala transpira dos mais variados odores. Sem pressa, António Leite, deita um olhar sereno ao exterior. Dali a visão é ampla. De várias partes do edifício, saem jovens — adultos em projeto num estágio ignoto —, caminham desordenadamente sem, no entanto, criarem o caos. “Parecem cigarras com aspiração a formigas”, pensa ele. “Nada sabeis.”, murmura, “Nem Saramago, quanto mais vós!”, o sol poente anuncia o fim do dia. “Que satisfação é ao parir uma nova ideia, mas não passa disso mesmo: uma ilusão. E o destino não foge a essa condenação.”
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