Eu já me tinha perdido da ideia de arrematar o desafio inicial que fiz ao beijo, mas ao deparar-me agora com umas poucas linhas que resgatei para um papel preso no frigorífico, achei por bem remir a consciência. Resgatei porque esquecia, porque a mente, naquele momento, insistia em fugir.
Hoje leio-as, pela primeira vez que me lembre. No papel tinha imprimido a receita de Sonhos escrita à mão e à pressa. Sonhos. Imagine-se a casualidade do encontro.
E é isto que leio:
Dos lábios verte a saliva que um dia mastigou o alimento que nutriu o ser que brotou de nós. Assim dizem eles, os entendidos. Alguns deles.
O beijo de agora, perpetua esse chamamento ancestral de pré-mastigar os alimentos e alimentar os infantes. O beijo agora alimenta-nos a alma e dá a alimentar quem amamos.
Foi só isto que escrevi, mas mais haveria lá por dentro. Desconfio que ficou embrenhado com a manteiga e a farinha..., sem esquecer o sal.
Outros há que defendem que o beijo passional teria começado pela troca de tabaco ou resina mascados pelo macho e dado a oferecer, preso entre os seus dentes, à fêmea, que se aceitasse o pedaço mastigado, seria sinal de aceitação do amor do rapaz. Dizem eles que este ritual se verificava ali pelos lados do Vale de Ziller, na Europa Central.
De maneira que tudo isto me leva a crer que, à nascença, poucas ferramentas trazemos connosco. Mas trazemos sim. Umas duas ou três, se talvez. Que vamos aperfeiçoando à medida que crescemos. Adicionamos apetrechos àquelas que já temos; deixamos cair em desuso quando já não necessitamos; tudo mediante a interacção com o ambiente em que vivemos no momento.
Se sempre se beijou do modo como o fazemos neste presente?
Não penso. Até neste aspecto há, não sei se lhe chamaria evolução, mas há, concerteza, mudança.
Se iremos continuar a beijar deste modo?
Também não penso que isso irá acontecer.
Texto escrito com o pensamento neste filme.
Material oscular pescado daqui.
quarta-feira, novembro 22, 2006
Beijo-alimento
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6 comentários:
Eu insisto :)
"Para Freud, tudo tem a ver com as etapas do desenvolvimento psiquico. Freud começa pelo período que dura até um ano de idade, em que a mãe dá de mamar á criança. Neste período todas as sensações de gratificaçãoestão associadas á boca. A criança aprende que tocar com os lábios algum objecto macio, proporciona uma sensação calmante e agradável."
(fui buscar aqui: http://torraodeacucar.blogs.sapo.pt/arquivo/152739.html)
Beijo grande, Riacho
Não me lembro se a Nell sabia beijar... tenho que rever o filme. Lembro-me que ela sabia o que eram afectos. Beijo-alimento ? Sim... Não só, mas também :-)
"insista, insista... 1, x, 2..."
:-)
(eu já te digo ali uma coisa)
______
... e sabia agressividade e medo, mas não a vi beijar, isso não.
Se não fosse pela falta de ética, tanto moral, quanto profissional, quanto outros encargos quaisquer, creio que só saberiamos a resposta para este tipo de pergunta se colocassemos um recém-nascido privado de todo o contacto e afecto humano, alimentando-o somente. Cruel, pois.
Uma coincidência fantástica, a nossa :-).
Que grande verbete! As espécies onde será inato hão-de ser bípedes (com e sem penas). É o beijo da avó do Saramago, dado com a boca fechada e lábios duros, como uma bicada...
Cumpts.
"E o beijo da avó do Saramago", digo.
Cumpts.
Nunca se sabe, Bic.
Bípede ou até bivalve, que são no todo, lábios.
Lindas vieiras voadoras, serão elas?
Agora, essa da avó de Saramago, deixou-me intrigada, e isso é bom sinal.
:-)
Um abraço.
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