terça-feira, agosto 15, 2006

Nexo




Só me apercebi do que aquela voz apressada relatava nas notícias das 14h, quando a palavra-chave foi pronunciada: blackout. Tal é a pressa com que as coisas são descritas que só atingo a proporção da notícia com este pequeno truque de palavras.
E foi essa, blackout, que despertou em mim uma vaga de reconhecimentos.
O famoso apagão que por aqui deixou praticamente meio mundo ás apalpadelas já fez três anos no dia 14 de Agosto. Imagine-se tal.
Partia no dia seguinte para uns dias de 'repouso' à borda do Erie: dormir debaixo de árvores, ouvir os grilos a acordarem-me pela manhã, cumprimentar boa-noite a skunks floridos à saída da tenda, sentir rebentar a mais linda trovoada ao alcance de um polegar e extasiar-me com a chuva de estrelas cadentes.
Não teria interruptores para ligar.
Na altura não lhe vi a particularidade da ironia; hoje sim, após o pó assentar na conjuntura daquele tempo é que me apercebo do que aquele apagão iria simbolizar na minha vida. Os traços que se foram materializando aqui e ali - Esboços, o Azulejo, o primogénito Sem Título -, traços estes que se começaram a gerar por aquela altura. A bem dizer, de apagão pouco ou nada teve - ou tem -, porque os olhos, uma vez adaptados à escuridão, obtêm desse estado inicial e aparentemente caótico, uma visão do essencial bem mais detalhada. A preto e branco. Seja.
Nunca os céus estrelados puderam ser tão justamente apreciados por milhões de citadinos como nessa noite.
Nunca a minha vida teve um bréu tão estrelado como a partir dessa data.
If only, a alavanca do conhecimento fosse assim tão fácil de encadear.



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