quinta-feira, outubro 27, 2005

O tempo perguntou ao tempo quanto temp...



Um texto recente da Mamã, acompanhado de uma certa conversa 'gasolineira' de há dias, veio suscitar em mim um aprofundar de certa matéria que já venho a pôr os olhos em cima há uma data de tempos; quer em revistas, jornais ou em conversas tidas com outros pais.
''Quality time''.
É o quê, concretamente?
Todos concordam que deva existir.
Todos sabemos o que significa 'qualidade', e o que significa 'tempo', mas quando se trata de exemplificar este 'modo de vida', é que já não concedo que exista concordância da minha parte.
Não me venham com horários estipulados para se ter 'quality time' por algum psicólogo que provavelmente nem filhos tem, como quem determina o horário mais correcto para se jantar, brincar ou deitar.
Estou ciente que existem tarefas para as quais convem que sejamos pontuais--mas se porventura o não podermos ser, há sempre uma alternativa; se o autocarro passou, vamos a pé.
A flexibilidade evita muitas artérias congestionadas.
De maneira que, da minha boca, nunca os miúdos ouviram nem ouvirão a sentença ''Let's have some quality time together!''.
Mas não é preciso que eles me peçam para me sentar com eles na berma da estrada a ver o tempo mudar a cor das folhas, ou para lhes esfregar a cabeça enquanto fazem os trabalhos-de-casa, nem de resmungar com eles quando deixam as pastas e os casacos espalhados pelo chão da casa, ou deitar-me com eles--nem que já sejam adultos--até que adormeçam.
Dou-lhes tudo isto e muito mais. Só não me peçam para trespassar a vida com o percurso rígido dos ponteiros.

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