segunda-feira, janeiro 03, 2005

Saudade



Já não costumo chorar nas despedidas.
Não sei desde quando, já não tenho lembrança da última vez, mas já foi há bastante.
Talvez seja pela assiduidade com que têm acontecido ou, quem sabe, seja mesmo assim, um processo pelo qual eu (e qualquer um que se despeça frequentemente dos que ama e onde haja distância física considerável) temos ou devemos de atravessar.
Uma rota incontornável.

Só depois, já de regresso a casa, sózinha, projectam-se-me cenas de um futuro que não verei; as vozes que até há bem poucos segundos atingiam-me os tímpanos com uma perfeição cristalina, não passam agora de sons abafados pelo meu murmurar.

Tive dificuldade em discernir a estrada, por várias ocasiões e de nada resultou ligar os limpa-pára-brisas.

Passou-me então pela ideia um pensamento que tinha frequentemente em criança:
- queria morrer antes de ti, para não ter que sofrer com a tua morte.

Agora que sou também o que tu foste (e continuas a ser) para mim, hesito débilmente em que lado desta balança colocar os pés desnudos...



(após ler o teu bilhete, a Verónica diz que continuas presente... no coração dela)