quarta-feira, outubro 27, 2004

És total



Neste preciso momento, cobrem-te lentamente o corpo, habitualmente de um alvo aveludado, com outros tons que só te conferem ainda mais magia.





Confusa e disparatada




A minha verdade foi aqui inventada.


Esta saiu-me assim, tipo bolha de sabão.
Ainda vinha agarrada aos farrapos de algum sonho, a que agora me fogem os pormenores.
Deambulava ainda eu entre aquelas paredes que separam a ambiguidade do sonho e os sons ainda ténues do real, quando a ouvi sair da garganta, da minha.

Não lhe vejo é ligação.
Mas a verdade inventa-se?... se se inventa, poderá ser verdade?
E qual foi essa minha verdade com que me esbarrei?

Resumindo:
Vou ter que passar a dormir com o meu cadernito de capa azul à minha beira.

Multiplicidades



Hoje, quando voltava para casa, dou por mim a reparar (se bem que o faça também todas as outras noites quando viajo de autocarro, mas só hoje me deixei levar a publicar o que matutei)... a reparar no pessoal que me acompanha.

Com os olhos postos em cada cabeça que consigo ver, vou-os contando, todos os que estão de um lado e multiplico por dois... devemos ser uns 40 (é daquelas camionetas que parecem uma lagarta, dobra-se a meio) e dentro desses 40 consigo descortinar pelo menos, aí umas doze nacionalidades diferentes.

Ora... (aviso já que isto é um texto reflexão que vai ficar incompleto, sinto-o, e ter que continuar um dia mais tarde)... ora, o que me surpreende por demais, no meio desta sociedade, é precisamente, como é possível haver coesão entre tal multiplicidade étnica?
- um país que tem, pelo menos, 40% dos seus habitantes, origem que não seja inglesa nem francesa;
- não têm a mesma língua materna;
- costumes, crenças, modos de vida completamente diferentes.

Como, no meio destas dissemelhanças todas, se consegue obter homogeneidade?
No meio deste pluralismo, nota-se no geral, um caminhar lado-a-lado.

(e a este respeito já falei a "X", aqui há centenas de meses atrás, que iria publicar sobre isto, no entanto tenho vindo a adiar... continuo 'verde' no assunto... e por me achar 'verde' é que o vou deixar em aberto)


Hoje, fico-me pela pergunta.
Mais tarde, volto ao ataque; e para quem quiser dar a sua opinião, agradeço bastante que o faça... alarguem a minha visão (preciso de completar um projecto, por isso... venham daí novas ideias... eh eh eh)

terça-feira, outubro 26, 2004

Carpe Diem

"We must constantly look at things in a different way.

Just when you think you know something, you have to look at it in another way.

Even though it might seem silly or wrong, you must try it.

Consider what you think. Break out!
Don't just walk off the edge like lemmings... look around you!!"

- in "Dead Poets Society", escrito por Tom Schulman

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E é assim que talvez se consiga absorver o dia; chupar o instante até à medula.
(obrigada Cidadão :-) )

O nascimento de uma crise

Para quem o barco do aborto causou tanta polémica, que pensar (se é que ainda se pode pensar após saber-se de tais barbaridades), como agir perante o que se passa no Quénia?

Como horrível ironia, a política dos EUA ao cortar ajuda internacional de planeamento familiar (ao que eles chama de "global gag rule") que tinha como fim petendido diminuir a taxa de abortos; resultou precisamente no contrário: num aumento ímpar desses mesmos.

TODOS os dias, agentes policiais da cidade de Nairobi, enfrentam a traumática cena de recolherem fetos abandonados em qualquer lixeira da cidade.

Sacos plásticos são recolhidos do rio Ngong, um braço de rio deveras poluído, repletos de fetos (por vezes lá se encontra um ou outro bébé com a gestação completa).
Sacos, que esperam ser levados pelas chuvas, mas que acabam por se acumular nas margens durante a seca que houve nesta Primavera.

(...)

Na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, que teve lugar em 1994, no Cairo, 179 nações assinaram um programa de acção na totalidade de 20 anos, que visava melhorar as condições de saúde sexual-reproductiva até 2015.
Cada país participante tinha a sua determinada quantia a pagar; tendo os países em desenvolvimento, que contribuir com 2/3 dos custos do programa, e os países desenvolvidos, com o restante.
Como a lista é enorme, passo a reproduzir uma meia dúzia dos países incluídos (em dólar americano) só a título de (muita) curiosidade:

Dinamarca -
Devia: $ 203.7 M - Pagou: $ 323.8 M
Deve: $zero

Luxemburgo -
Devia: $ 22.8 M - Pagou: $ 26.9 M
Deve: $zero

Holanda -
Devia: $ 208.0 M - Pagou: $ 336.4 M
Deve: $zero

Suécia -
Devia: $ 296.7 M - Pagou: $ 388.1 M
Deve: $zero

Portugal -
Devia: $ 136.4 M - Pagou: $ 7.0 M
Deve: $ 129.4 M

EUA -
Devia: $ 12.3 B - Pagou: $ 4.1 B
Deve: $ 8.2 B

Reino Unido -
Devia: $ 1.9 B - Pagou: $ 1.1 B
Deve: $ 744.5 M (?) (de acordo com o que li)

Canadá -
Devia: $ 850.1 M - Pagou: $ 196.9 M
Deve: $ 653.2 M

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Por cada $1 M a menos recebido para fundos que vão contribuir para a compra de contraceptivos, equipamento medical e víveres, entre outros, resulta em:

360.000 gravidezes não desejadas
800 mortes maternas
14.000 mortes adicionais de crianças abaixo dos 5 anos
150.000 abortos provocados
11.000 mortes infantis


?

segunda-feira, outubro 25, 2004

Sinestesia

Lembro-me ainda,
que sabor têm os sons que pronuncias.

Lembro-me ainda,
as mais variadas cores que preenchem a tua voz.

Vejo ainda,
sendo eu já cega,
ao ouvir-te falar,
as mais belas combinações luminosas
que me estalam cá dentro
o olfacto
à passagem desses olores.

Cada nota, uma cor.
Cada som, uma brisa.
Cada ritmo, uma essência.
Cada palavra, um sabor.


m. leal
21 Outubro 2004

sexta-feira, outubro 22, 2004

Quem testa quem?

Eu acho impressionante a quantidade de testes que fervilham pela net (e não só) que nos ajudam a descobrir um EU que nunca atingiriamos, por certo, de modo algum, através de pura introspecção.

Eu já lhes perdi a conta.
Já não me recordo com que ser mitológico eu me assemelho... nem com que espírito irei acordar no dia 'X' às horas 'tal'... ou com que tipo de árvore todo o meu ser se entronca.

No entanto há um teste que me fascina: que cor de aura eu possuo!

Não é brincadeira nenhuma conseguir chegar a tal conhecimento através de uma dúzia de batimentos de teclas.
E na minha condição de sujeito com uma mente aberta, eu experimento tudo.

Até mesmo aplicar uma certa atitude científica face a estes testes ditos "iluminantes".
Portanto, na próxima vez que me encarar frente-a-frente com um personagem caçador de auras, agirei como James Randi e usarei a abordagem de Moisés: "Testa o profeta."

Randi: Consegue ver a minha aura ao redor da minha cabeça?

"Caça-auras": Sim, claro

Randi: Ainda consegue vê-la se eu colocar esta revista em frente do meu rosto?"

Caça-auras": Mas com certeza.

Randi: O que quer dizer então que, se eu me esconder por detrás de um muro ligeiramente mais alto que eu, você poderá determinar a minha posição simplesmente por conseguir visualizar a minha aura, certo?

Até hoje, o tal sujeito, ainda não acedeu participar neste simples teste.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Tempus Fugit

É esta a inscrição gravada no bronze do relógio de sol que nos cumprimenta, solitário, assim que chegamos ao cume da ligeira colina, nesta linda propriedade que a todos pertence.

Quanto a mim trata-se de uma representação bastante contraditória com a percepção que eu sempre tenho assim que coloco os meus pés naquele pedaço de terra.
Em vez de fugir, o tempo, parece sim, regressar ao passado e estacionar em meados de 1900.
Tranquilamente, sem pressa alguma.
Aliás, iria jurar que esse mesmo tempo parece-me pairar imutável.

É, de facto, o meu canto preferido nesta fatia do globo.
Seja qual for a altura do ano, sou atingida por uma profunda sensação de serenidade e paz interior, ao absorver os tons, os sons e os odores destas paisagens.

Mackenzie-King, foi um homem deveras impressionante, com uma enorme visão, que nos legou este magnífico pedaço de solo por onde outrora caminharam ilustres personagens como Winston Churchill ou F.D. Roosevelt e se mantém nos nossos dias, tal e qual como ele o deixou.

Neste dia o sol não brilhou.
Permaneceu sempre por detrás de uma espessa camada nebulosa.
Porém a luz não faltou.
Teve sim, outra proveniência.



Para mais colorido, aponta aqui.

quinta-feira, outubro 14, 2004

quarta-feira, outubro 13, 2004

sexta-feira, outubro 08, 2004

Esta noite

Sou bicho-do-mato.
A claustrofobia ataca-me quando me rodeiam estranhos.
De sorrisos afiados, prontos à mordidela.
Apertos de mão que se enlaçam num engasgar do ar que respiro;
esses sorrisos tornados esgares
ao meu olhar.
Só ao meu.

Eu sei.
Sou um bicho-do-mato reles.

Esta noite conto com vocês.
Com cada um de vocês, sem distinção;
estranhos somente ao olhar visual.
De olhos fechados vamos dançar
tu... ele... ela... eu... todos nós!
Ajudem-me a enfrentar a noite que se aproxima.


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Só vos queria agradecer por todas as palavras que aqui escrevem, pela presença mesmo sem ser escrita.
Sei que por vezes vos respondo, por outras, não.
Não é por ser indelicada, acreditem.
Nem vou arranjar nenhuma desculpa esfarrapada.
Sou assim... 'um pouco' despassarada.
Um beijo em todos vós.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Troquei-lhe o fio atrás.
As colunas são agora nascente ao rubro de um dos sons que me mastiga o ser.
Prontas à partilha.
No desvaire do momento,
o corpo torna-se independente,
e
entre os meus solavancos ritmados,
no segundo em que esta passagem se ouvia:


I’m sick of the tension
Sick of the hunger
Sick of you acting like I owe you this
Find another place to feed your greed -
While I find a place to rest

Eis que me saltas ao colo!
Abraças-me de tal modo
que o meu e teu balanço rítmico, são um só,
esfuziante!

Só no fim do trecho reparo que tens o mesmo modo, que esta tua mãe, de absorver a música:
de olhos fechados!

(quando formos os dois ‘adultos’ - eh eh eh… esta é uma indirecta ;-) - eu e tu, David, vamos arrasar as pistas de dança! )

segunda-feira, outubro 04, 2004

Budget 2005

Numa das minhas idas à biblioteca, deparei-me com dois folhetos que me atraíram imediatamente.

O processo de criação do budget (orçamento ?) desta cidade começou.

Este ano, pela primeira vez, os cidadãos terão a oportunidade de expressar a sua opinião em relação aos contornos desse orçamento antes que seja aceite pela Câmara.

Um dos folhetos trata de nos dar informação a respeito do assunto delineado.
Com possíveis perguntas e respectivas respostas.
E o outro é o questionário em si.

Confesso que fiquei bastante surpresa e ao mesmo tempo feliz por ver tamanha abertura em relação à actuação directa do público na engrenagem de crescimento de uma cidade.


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P.S.: Cá está o dito link.

sexta-feira, outubro 01, 2004

Curiosidade nata

Era meio-dia.
Num dia qualquer desta semana.
Esperavamos o autocarro da escola para o Daniel.

Com as miúdas já na escola desde manhã cedo, a minha atenção diminui para metade, de modo que me delicio com certos prazeres - habitualmente remetidos a segundo plano - como aquele com que me entretinha no momento: o envolvente abraço solarengo de Setembro que se findará num piscar de olhos.

Não me dei conta de como se levantou, nem qual dos dois induziu a esta acalorada 'discussão'.
Quando aterrei (no mesmo plano audível que eles), foi a partir daqui que os apanhei:

Daniel diz: “No! The front of the road is nowhere!!”
David responde: “No… you’re wrong! IT is everywhere…”

Viram-se então os dois para mim, após uns largos minutos de exuberante discussão madura entre dois miúdos de cinco e três, respectivamente.

Os dois: “Mããã… where is the front of the road??”


Esta pergunta dos miúdos transportou-me de novo à minha infância.
Fazemos continuamente comparações de viveres, de acções...

Quantas vezes me lembro eu de ter presenciado conversas em criança, entre adultos e mais jovens e perante a curiosidade, sempre no pico, da criança, a maioria das respostas que essa mesma tinha eram:

- "olha... olha! Mas que palerma! Isso é pergunta que se faça?"

- "... ui! ... que tristeza! Não tens mais que fazer do que fazer perguntas parvas?"


E por aí fora.
O que não faltava era desse tipo de exemplos.

Perante reacções deste género, como pode uma criança tornar-se forte no saber e continuar a querer descobrir para além do que os seus olhitos vêem?

Porque será que temos todo um potencial de querer sabermos mais, mas que tem tendência a sumir com o decorrer dos anos?