quarta-feira, setembro 29, 2004

Lock & Key

No fundo, talvez não passemos disso: Lock and Key

Tudo o que somos,
tudo o que fazemos,
procuramos,
ansiamos...

Tu-do no todo!

Uma sucessão infinita de processos Lock & Key.

E não me apetece esmiuçar mais.
Quem quiser que o faça.
Que me desminta.
Que me ajude a ver de outra forma.
Que me conteste, porra!

terça-feira, setembro 28, 2004

Prelúdio de um todo

Esta caiu cá dentro
e não há meio de se esvanecer.


"So close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
and nothing else matters"

(...)

segunda-feira, setembro 27, 2004

Ela desafiou...

... ao qual eu retorqui!

Um excelente exercício merecedor de uma/s repetição/ões.
Vale a pena ler as demais ramificações que surgiram.

_________________________________________

Tudo

por Riacho



“Tudo?!”, repetes tu, enfatizando no olhar essa enorme admiração, ao mesmo tempo que tentas desenvencilhar-te do meu toque; consegues fazê-lo de um modo delicado, no entanto firme.
Como que este elo surtisse em ti uma poderosa influência que desejas eliminar.
Após um longo suspiro, com os olhos voltados para as tuas mãos, ali pousadas na mesa, desamparadas, sós, balbucias as palavras como que se falasses contigo própria:
“Já está tudo contado… tudo àcerca de mim”, enfrentas o meu olhar e continuas “ cada história que te contei, continha pedaços de mim, simulados, sempre em segundo plano, de modo a não atrair demasiado…”
Olhas em volta, temendo que mais alguém te possa ter escutado revelar algo que te é tão precioso.
Abraço-te num sorriso condescendente, que é ao mesmo tempo indicador do profundo efeito que a tua beleza me provoca.
Pensando bem, não és extremamente atraente.
Não és daquele tipo de mulher capaz de fazer os homens girarem sobre si mesmos ao ver-te passar.
Contudo, existe algo em ti… sim!
Acho que é esse olhar. Um olhar que acolhe.
Uma beleza em segundo plano, como tu própria te defines.
É isso.
Tens algo que cativa o segundo olhar (aquele que perscruta o que está para lá) e nos faz permanecer assim, como que embalados por essa beleza serena.
“Não compreendo essa tua inclinação de te ficares pela sombra”, consigo finalmente pronunciar umas palavras, saindo do transe em que me envolvi e penso “nem tu imaginas o lugar de destaque que ocupas na minha vida, nem nunca me atreverei a dizer-to".

“Já me devias conhecer melhor”, replicas tu com um sorriso matreiro, desafiador “quantos já são?… cinco anos?”
Aceno afirmativamente com a cabeça e mergulho de novo em pensamentos.
Quero que me sigas neste trajecto interno.
Necessito que leias nas linhas do meu rosto os contornos da minha reflexão.
Cinco anos volvidos, depois que nos cruzamos pela primeira vez em palavras, por um daqueles acasos intitulados de “meros”.
Cinco anos depois de múltiplas permutas escritas - conheço tão bem o teu modo de esplanar os sentimentos, que seria capaz de discernir um dos teus escritos no meio de uns cem.
E cá estamos, frente a frente, pela primeira vez. Cada um de nós reflectido nos olhos do outro.
Não sei como pude aceder a este encontro. Nunca quis materializar a nossa já bastante estreita afinidade, com o receio que caíssemos numa relação fútil. Um medo infantil, por certo, de que a realidade não correspondesse a esta imagem de nós que foi escalando vertiginosamente estes anos todos.

Abanas o rosto negativamente, como que a responder a este meu último pensamento e de novo aquele sorriso de menina:
“Anda! Vamos sair daqui”, convidas-me naquele teu modo impulsivo, “este lugar é demasiado pequeno para escutar as histórias que nos vamos contar”.
“Agora és tu que me desafias”, penso eu, e deixo-me levar por essa tua jovialidade inocente de menina perdida no tempo, sem idade.

Pagamos o jantar, ligeiramente tocado, aliás, tão absorvidos estavamos na conversa, e saímos lado a lado.
Enquanto esperavamos que o trânsito nos oferecesse uma abertura para atravessarmos, descaio o meu olhar na tua mão esquerda, ali mesmo ao meu lado e, sem saber como, dou comigo a entrelaçar os meus nos teus dedos, muito lentamente, a medo.
Procuro uma âncora nos teus dedos.
Dedos que tanta vez já me ampararam à distância, em cada texto teu que li.
Desta vez não opões resistência ao toque.
Levantas ligeiramente a face, olhas-me, um carro buzina frenéticamente avisando que estamos no seu território, distrai-nos, quebra por segundos o fio que ali se formou…

“Merda!”, acordo sobressaltado, “vou chegar atrasado.”
Olho o relógio, apreensivo.
“Ainda estou a tempo de a ver, mas… será que devo ir?”
Não peso os prós nem os contras.
Levanto-me num ápice e, sem me dar conta, lanço pelo chão da sala aquelas folhas de papel.
Cada uma delas contém histórias tecidas pelos teus dedos.
Lanço mão a um casaco, atiro-o sobre os ombros e saio de casa.


(escrito a 17 de Setembro, 2004)

domingo, setembro 19, 2004

A minha alma traja negro

Carreguei-te no pensamento cada minuto deste dia após aquele telefonema pela manhã.
À medida que as horas se alargavam, os meus passos pesavam cada vez mais com o crescente amontoar de pensamentos.
E foi-me muito difícil seguir o dia como se nada tivesse acontecido; aguentar as brincadeiras e o riso das crianças, que alheias a este sofrimento meu, continuavam no seu mundo de faz-de-contas habituais.

"Foi o Durão...", começou por dizer a minha mãe.
Durão! Nunca compreendi muito bem o que levou os teus pais a te colocaram este nome tão pouco usual como nome próprio e o mais interessante é que mesmo depois de to terem retirado (por lei), continuaste a ser Durão para nós.
Como se tratasse de um nome de código, afávelmente pronunciado, só entre nós, de um modo especial.

O que se seguiu naquela conversa telefónica, fez com que eu, por mais forte que tentasse ser, desabasse numa explosão de emoções que me paralisaram a fala. Tive que desligar apressada. Não consegui proferir nem mais uma palavra.
Quero saber: Porquê!
Não o porquê de teres sido tu (a essa pergunta sei que virá o derradeiro esclarecimento, mais tarde, um dia).
Tento é racionalizar o que se passou comigo, ali.
Sei tão pouco de ti e no entanto o choque foi tal que me abalou os alicerces.
Imagina tu!... nem a tua idade eu sabia!
Um puto que eras.
22 anos de sabedoria.

Teria sido porque senti em mim a terrível impotência que a tua mãe deve ter sentido, ao querer abraçar-te, tentando dar vida a esse corpo a que um dia lhe deu existência?

Será que foi por sentir que a ordem natural tivesse sido alternada e por conseguinte outros elementos deste "elenco familiar" a que pertencemos, também eles, poderão seguir o mesmo caminho?
(porra!... és - eras :-( - o segundo mais novo!!)

Ou teria sido por achar que tinhamos tanto em comum e nunca trocamos mais do que carinhosas palavras enquanto crianças?
Sim... acho que ficamos para sempre, com a imagem um do outro, pelo que fomos na infância.
Lembras-te... quando aí estive há dois anos, eu quis estreitar esses laços. Tornar-te mais chegado.
Vejo grandes semelhanças entre ti e a Jessica... sois parecidos física e mentalmente; por isso quis que fosses tu o padrinho dela.
Não deu para isso, paciência, mas fiquei bastante triste...

E porque a distância assim o permitiu, se me lembro de ti agora, vem-me à mente a tua figura de menino pequenino.
Lá aparecias tu com o avô na "carripana", a entregar as compras pela vizinhança.
De semblante muito sério para a tua tenra idade, adoravas ser o parceiro dele a jogar à "sueca".
Sabes... sempre admirei (e o orgulho em ti estava ali de mãos dadas também) como conseguia essa tua cabecita ainda tão inexperiente (devias ter uns 5 anos), memorizar aqueles naipes todos!


O vale do Ave viu-te crescer.
Coimbra acabou de te formar em Medicina.
Um emprego esperava-te no ramo que sempre te interessou.
E Ponte de Lima ceifou todos os sonhos.
Teus e dos que sabiam do teu potencial.

Foste precoce em vários aspectos da tua vida.
Até na morte.

Até um dia, querido primo.
(..........)

quarta-feira, setembro 15, 2004

:-)

E depois daquela carga de vocábulos acabados de expelir, eis que me despeço... temporáriamente.
Voltarei, com muito menos tempo, menos assiduidade... com muitos menos.

Passarei, por certo, a falar mais com os olhos que com as teclas.
Passarei menos tempo a ler-vos (muito contra a minha vontade, mas enfim...)

São ciclos.
(como diz o meu 'amigo' Mataratos)
E este é um novo que começa.

Beijos a todos e a cada um de vós em especial.

Um desabafo (por falta de melhor título)

Não tenho por hábito reger-me por generalizações, mas devo admitir que nos são úteis e servem como fio-de-prumo na descrição de povos, por exemplo.

E depois, claro, há deviações a esse fio, como em todos os parâmetros que nos guiam.
O ideal seria que o geral se desse sempre pela positiva (o que nem sempre é o caso), que as excepções do negativismo formassem, essas sim, o geral.
Uma utopia, isso sim!

Tomemos o caso da imagem geralmente feita aos portugueses.

Há vários caracteres que nos generalizam (concordam, não?), mas aos meus olhos existem dois que sobressaiem dos demais:
- A hospitalidade;
- A vaidade.

Será que existe correlação entre as duas?
Se não fossemos tão hospitaleiros, tornar-nos-íamos (isto estará bem escrito?) menos vaidosos?

Eu gostava de focar aqui esta última, a vaidade.
Quanto a mim, uma vaidade exacerbada.
Uma vaidade que me marcou desde tenra idade, pela negativa.

Compreendo que se goste de vestir bem... perfumar-se da cabeça aos pés (...cuidado com as alergias!)... ter que sair por 5 minutos para comprar pão e passar meia-hora a "arranjar-se"... deslizar pela nave da igreja a nova fatiota (que por azar é igual à da vizinha!! @#$@%&)...
Eu compreendo isto tudo (embora não pratique nem aceite), mas quando esta vaidade escapa da aparência física que nos envolve e atinge o corpo físico em si... isso doi!

Houveram frases que ficaram marcadas na minha memória e afectaram mesmo a minha personalidade.
Frases segredadas por entre as mãos que se queriam fazer ouvir.
Olhando de lado o "objecto" dessas afirmações peremptórias.
Frases e olhares que me queimaram, como quem queima o gado com ferro em brasa.
De tal forma que desde que entrei no 1o ano até ao 12o (ou seja, toda uma adolescência), nunca usei saia!

Com certeza outra pessoa teria agido de outra maneira.
Se calhar só eu me escondi desta forma... porque sou fraca (aliás, fui mais fraca). Demasiado sensível para fazer ouvidos de mercador.

O que me põe a pensar em outros alvos que existem, casos ainda mais graves em termos de diferênça física.
Quantos e quantos não haverão por essas ruas fora a serem "vaidosamente analisados" por quem possui as "medidas certas"!

Portugal é uma sociedade que segrega. Isola. Atraso desolador de mentalidade.

As excepções existem, como já acima referi, eu sei... só é de lamentar que esses não componham um todo mais aceitável, mais justo.

~~~~~~~~

Como complemento de informação (e não é que o seja obrigada a fazer; é mais uma necessidade muito minha), acrescento que a minha diferênça física deve-se ao facto de ter sido atingida por Polio, tinha eu uns 5 mêses de idade.
Após algumas intervenções cirurgicas, feitas já tardiamente (assim era a medicina nessa altura) na minha adolescência, permaneci com uma ligeira desigualdade nos membros inferiores.
Nunca me impediu de andar, saltar ou correr como uma doida que (ainda) sou; mas que raio... também nunca pude entrar numa sapataria, comprar qualquer tipo de sapato e sair com eles nos pés.

Mas que vaidade a minha!

Dune

O título é uma passagem para um mundo imaginário, criado por Frank Herbert (e posteriormente seguido pelo seu filho, Brian).
Fala-nos de um lugar para além dos nossos sonhos.
Um filme (cá venho eu armada em crítica cinematográfica) para além da nossa imaginação.

Não lhe valeu nenhuma menção honrosa, nem a actuação dos actores é lá muito famosa, fica muito, mas muito aquém das novelas narradas pelo seu criador; mas vale pela oportunidade que nos dá (a quem o deseja, é lógico) de fazermos o uso máximo, que nos seja permitido, de algo que normalmente fica pelos, vulgos, prazeres sensoriais: a imaginação.

segunda-feira, setembro 13, 2004

A hand that pushed me

Start.
My Music.
(...)
Play all.

(And so it did... ... extremely well... as usual :-) )

A golden bird that flies away... and reaches the heart... within.

domingo, setembro 12, 2004

Duas saliências

Se por um mero acaso eu fechasse os olhos
(para sempre)
neste preciso momento;
veria com bastante precisão duas linhas divisórias entre o alfa e omega da minha existência,
que se destacam das várias que fui tendo ao longo dela.

A nível de solidez física, existe o antes e o depois dos meus filhos.

A nível de segurança no pensar, existe o antes e o depois de ti.

Comentário

A este texto da AQ.
Cá vai (ahamm... afinando a voz :-p ):

- Ah sim!? (de sobrancelhas franzidas)... e agora como faço para que 'ouças' o que me passa pela cabeça assim que te acabo de ler? (a fazer beicinho).
Olha que um fonema daqui aí não fica barato! (a piscar o olho na brincadeira)(... é que nem e-mail, nem o caraças! #%@&%)

:-)

Tu fazes aquilo que achares seja melhor para ti... e mais nada!
Beijinho AQ

Concêntricos

sábado, setembro 11, 2004

De volta à fauna

Atraiem-me os animais em geral, cada um com as suas particularidades distintas.
Não é por acaso que os documentários que focam a Natureza, sempre foram desde criança os meus preferidos e ainda continuam a sê-lo.

No entanto devo confessar que tenho uma especial preferência por aqueles que possuem um porte calmeirão, paciente, majestoso...

E majestoso é, sem dúvida, o vôo deste passarão - Garça Real.
Admiro-lhe aquelas asas pesadonas e enormes; aquele pescoço comprido que se dobra para melhor cortar o vento... é incrível como se consegue manter no ar!
Como que voasse em camera lenta.

(Não me consegui aproximar mais dele, daí não ter uma imagem mais nítida. Se bem que o dia de nevoeiro também não tivesse ajudado)


quarta-feira, setembro 08, 2004

(Entre tu e eu)

(No fundo... o que nos une, de uma forma muito enigmática,
é um instinto animalesco.

Não sei como o sei.
Escusas de perguntar.

Só sei que o 'É'.


Assim como os pássaros deixam de cantar ou outros animais fogem em debandada quando uma calamidade se aproxima.
Não se avista o perigo, no entanto eles sabem-no.
Não se consegue explicar como.


É-o.
Simples e sem enfeites)

terça-feira, setembro 07, 2004

O regresso às aulas e ao passado

Já passava bem da 1:00 da manhã.
O primeiro dia de escola amanhecia dentro de poucas horas.
Estava eu atarefada, de regresso ao redemoinho na preparação dos lanches, quando o balcão da cozinha se transforma numa eficiente linha de montagem:
- clic!... clac!... troc, troc!... zás, pás, trás!

É em momentos destes que entro em profunda reflexão, enquanto os dedos trabalham fervorosamente, a mente divaga, mergulha em poços anteriormente vividos e pasmem-se... dei comigo a pensar em tomates!
Estranhas situações a que somos catapultados pela memória.

Tinha eu uns 18 anos.
Num país estranho.
A primeira vez que permaneci longe de casa por vários meses.
Longe de tudo e todos que nos fornecem aquela suposta aura de seguridade.

Tinha decidido experimentar, juntamente com uma amiga minha, essa aventura de que é ser-se "au-pair".
E foi numa das aulas de inglês que tinhamos semanalmente (uma classe repleta de jovens dos quatro cantos do mundo!), que aprendi a apreciar o verdadeiro sabor do tomate.
Sim... claro que eu já os comia, mas com um molhito por cima que disfarçava em grande parte a textura deste delicioso fruto (Sim! É fruto!).

A professora, nesse dia, pede-nos que nos juntemos a pares (fiquei de "braço dado" com o Alain... um francês castiço que tinha sempre um largo sorriso estampado no rosto) e dá-nos a escolher um entre vários legumes e frutos à disposição.

Muito contra o meu gosto (eu tinha já os meus olhos vidrados num kiwi...), lá nos deparamos com o tomate.
Tinhamos que o analisar... cortá-lo... apreciar as suas entranhas... admirá-lo de cima a baixo atentando em pormenores que nos escapam no dia-a-dia voraz da fome e... escrever sobre ele.

Acreditem. É um exercício por demais benéfico.
Preciosa ginástica mental que nos permite pular do real para o imaginário num abrir e fechar de olhos.
Lembro que nós optamos por descrevê-lo sob forma de prosa:
- vimos um labirinto naquele emaranhado de túneis, imaginamos duendes e fadas que tal!...
Já lá vão tantos anos que os detalhes, para sempre se foram e tenho realmente bastante pena de não ter ficado com um exemplar!
(Naquela altura estava lá eu interessada em ficar com um texto que me fale em tomates! Havia tanto para conhecer! Foram uns dezoito anos muito prolíferos em novas experiências)

O que é encantador são estas associações que passamos uma vida inteira, inconscientemente, a realizar.
Para cada indivíduo que conhecemos ou local que frequentamos haverá sempre um pormenor que lhes ficará permanentemente ligado.
Como que nos quisessemos assegurar que nunca serão esquecidos, talvez... sei lá!

Sempre que vejo um tomate, é automático: revejo mentalmente o Alain!

In this concrete jungle...

... white flags are always 'off'.



JUST listen and enjoy every decibel of it...
(click: Music; Albums; 01 White Flag. video)


(...)
Well I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
(...)


Dido - White Flag

domingo, setembro 05, 2004

Solfejo de subsistência

Tenho uma pasta que contém pedaços...
Grandes fatias de uma vida que me foi, digamos, oferecida a ouvir.

Como que dois passados se moldassem num só, essa passou também a fazer parte da minha vida, sem no entanto a ter vivido fisicamente.

Hoje...
Não a consigo abrir.
Com receio das possíveis sensações que daí poderão suceder.

Porque sei que essas mesmas serão um prenúncio do devir.

Tempo

É de surpreender quando nos deparamos com uma fonte inesgotável de memórias que sobreviveram de uma relação mantida num breve espaço temporal.

Em contrapartida, outras se estenderam durante longos anos sem deixarem os mínimos vestígios.

Daí eu me questionar se o tempo e as suas múltiplas subdivisões, terão assim tanta influência, como de costume se atribui, no decurso de uma relação.
Não suponho ser ele a peneira qualitativa numa ligação.

Assim foi a minha noite passada

Se desejam passar uma noite em branco, com os olhos fixos no tecto, desviando-os a cada mudança de negrura nocturna procurando sombras que esvoçam abruptamente, aconselho (quem ainda não viu) um excelente serão na companhia desta encantadora criatura.

Uma experiência única.
O pós-filme.

sexta-feira, setembro 03, 2004

GMO's ou OGM's

Tanto faz, o sabor é igual.

E sabe a quê?

Ora bem... sabe a Organismos Genéticamente Modificados.
Três enormes palavrões, que se os dizemos de uma só vez até assusta, e que designa certos alimentos aos quais lhes foram modificados os genes originais como forma de melhor alimentar um planeta superpovoado, conseguirem obter plantas mais fortes capazes de resistir a pragas de insectos, evitar o abusivo uso de pesticidas e por aí fora.
Nao vou entrar em detalhes mais aprofundados pois existem várias páginas às quais podem aceder e obter informação mais detalhada (como por exemplo esta aqui em português http://www.agroportal.pt/a/2001/jpicarra.htm).

O meu problema está em aceitar a "ingestão" destes organismos.

Com muita franqueza vos digo que não sou de acordo em modificar a natureza do que quer que exista, assim como não admitiria que modificassem a minha.
E quando o homem se promove a criador de novas espécies, misturando genes daqui com outros dali... bolas!
Tenho um pressentimento que vai acabar mal e o caldo vai-se entornar.

E as minhas dúvidas pairam nebulosas e carregadas a respeito deste assunto:

- Efeitos secundários desta práctica? Existem? Quais?
- OGM's ou pesticidas? ... ou alternativas?
- Avisar o consumidor com produtos devidamente rotulados? Faz-se?

É melhor parar por aqui...

Eu cá sou uma agricultora de meia tigela, que quando chega a Primavera dá meia volta à terra, arejando-a devidamente (faço atenção à rotação do solo e tudo!), escolho umas poucas de sementes daqueles produtos que mais comemos e... toca a cavar.

Delicio-me a ver as plantas germinarem e ao mesmo tempo ensinar aos miúdos que o fruto vem a seguir à flor e que as joaninhas são uma alternativa natural aos pesticidas e... ...

Como já deu para notar, não utilizo pesticidas nem herbicidas (haja terra para tudo, tanto ervas daninhas como couves!... também dá gosto arrancar os verdes nocivos), por conseguinte, noto com bastante facilidade que existem hostaliças e legumes que florescem e produzem maravilhosamente bem e nao existe insecto que os ataque.

Um bom exemplo disso é a vagem (ou feijão-verde).
Verão sem um prato destes, não sabe a Verão!


Já me passou bastantes vezes pela cabeça voltar a uma economia de subsistência - criar umas galinhas, uns coelhos, ter um pedaço de terra com o essencial...
Só tenho é que me mudar para um local mais ameno porque este aqui, no Inverno, só produz mesmo é pingentes (de gelo).

Que deixem a Natureza seguir o seu rumo, é o meu lema.

Vou ser um bocado dura agora...
E se o maior problema é mesmo ter um planeta superpovoado, porque não faz o humano o mesmo que fazem os lemmings (desculpem, mas não sei a tradução) face ao mesmo problema?


~~~~

Esse seria outro motivo de discussão:
- o superpovoamento.

Ao passo que em certos países isso se verifica, noutros passa-se precisamente o contrário.

É só paus de dois bicos para onde quer que se olhe!

quinta-feira, setembro 02, 2004

O som do meu despertar

Enfiei-lhe uma cana de fora-a-fora, na diagonal, deixando cerca de 20 cms de cada lado para que pudesse aterrar.
Coloquei os seus poucos apetrechos alimentícios pendurados do lado de fora.
Adornei o exterior com mais uns galhos roubados à natureza e de seguida, meti-lhe as mãos em cima.
Após umas pouquíssimas tentativas, lá consegui resgatá-lo daquele refúgio feito lar imposto e dar-lhe um pouco mais de espaço para os seus movimentos.

Estou a falar do nosso canário.
Está connosco há cerca de 3 semanas apenas. Um pássaro tornado oferta que fizeram aos miúdos (sim... porque não sou eu que lhes iria comprar um; dar de mão beijada uma nota de $100!... não sou apologista de se comprar vidas).
Só não o devolvo à natureza porque isso seria o mesmo que lhe passar a certidão de óbito.

Escusado será mencionar o grau de alegria dos petizes!
(versus a completa estupefacção do passarinho)

Por pouco não os via a eles próprios voarem ao redor da ave, tal era a euforia.

Mas o meu sujeito deste texto não são eles, mas sim o canário.
Pasmei assombrada com a reacção dele àquela abertura inesperada de liberdade.
Julquei eu que o pequeno ser, assim que se sentisse fora de grades, se poria em fuga e voasse, voasse até cansar.
Qual quê!
Quase nem sabia fazer uso das asas.
A liberdade ao seu dispôr e não foi capaz de se afastar daquele espaço onde tinha a certeza de ter o seu sustento.

Vou-me manter atenta ao desenvolvimento dele perante esta sua nova realidade e registar mentalmente o progresso (se o houver).

~~~~

Se por acaso denotaram alguma vaga conotação metafórica naquilo que acabei de escrever, podem estar certos de que foi exactamente esse o meu intuito.

Quanto ao canário mesmo... passo, já agora, a apresentá-lo. Chama-se Yolk, esta miniatura de soprano encantador.
(porque será que os garotos insistem em dar nomes a tudo quanto vêem? ... imaginem que, enquanto estivemos ausentes, nos "enfiaram" 20 peixitos num pond (laguito...?) que fizemos no jardim; e não é que os marotecos inventaram nomes para cada um deles?!)


(era para ser um pequeno video-clip mas a página está em obras)

Que cheiro é este?

Pela manhã, o Daniel levanta-se, dirige-se à porta da frente, espreita pela frincha da porta, mete o narizito no ar; dá meia volta e vem ter comigo com ar espantado, olhos arregalados, informa-me, quase solenemente, que "Já cheira a inverno lá fora!"

Para quem não conhece, o Daniel é um petiz de 5 anos (filho desta mãe), onde a traquinice começa a acalmar para dar lugar ao estado de alerta e percepção dos mínimos detalhes que o rodeiam.

E foi com esta notícia/choque que comecei o meu dia!

Não é que eu deteste o Inverno!
Muito pelo contrário.
Simplesmente cresci habituada a uma cadência diferente na transição dos equinócios e solstícios; e por muitos anos que aqui viva (espero não serem muitos mais!... aqui), nunca me irei habituar à longevidade do Inverno, à quase ausência de Primavera e Outono (por sinal, a minha preferida) e ao húmido e curtíssimo Verão.

Já estou mesmo a vê-la... ali estendida quase que perpétuamente.
De uma frieza cortante.
Aquele manto alvo que se projecta cá dentro... na alma.

Quills

Foi este um dos peixes que veio por arrasto no dia em que fui apanhada na teia de Cronenberg e tive a oportunidade de apreciar ontem à noite.

Garanto que valeu bem a pena ajoelhar-me ao nível da prateleira onde os "Q's" tranquilamente repousam, acumulando poeira, longe do olhar e mais perto dos passos apressados que entram e saiem num relâmpago, à procura dos filmes que encumeiam o top.

Como foi que traduziram o título para português?
Penas...? Plumas...?

Um "must", digo eu.
Para quem gosta de recuar no tempo e entremear-se na mentalidade de outroras tão longínquos que custa a acreditar que um dia era assim que se vivia e sentia.

A sempre presente dualidade sensorial/intelectual, que acompanha o desenvolver humano desde os primórdios.
Aliados? Inimigos?

Vibrei com aqueles fragmentos em que ele recorre a diferentes modos de materializar os seus pensamentos:

- O frango assado... o copo de vinho... os lençois;
- O espelho quebrado... o sangue dele que goteja com vida para dar por sua vez vida às suas letras;

Enfim... sublime mesmo e acho que fico por aqui senão ainda estrago a delícia de quem ainda não viu e poderá querer ver.

Só mais um detalhe... o filme retrata fracções da vida deste senhor.